Como se estivesse participando de uma tradicional cerimônia de cavalaria, a poetisa foi tocada pela parte lateral de uma espada, recebendo, então, um voto de honra e uma missão. Contudo, leitor, essa é a metáfora empregada para descrever como um certo dia, de céu límpido e luz profusa, atingiu-a, tornando-a presente, viva, consciente de si.
Ela então desperta vibrantemente, como um sino a tocar, revelando todas as possibilidades de seu ser, suscitando-nos uma pergunta: a certeza de suas capacidades veio de fora de si mesma ou nela esteve, o tempo todo, necessitando apenas de ser despertada?! Seja como for, Levertov atinou para os seus poderes e coragem!
J.A.R. – H.C.
Variation on a Theme by Rilke (*)
(The Book of Hours, Book I, Poem I, Stanza I)
A certain day became a presence to me;
there it was, confronting me – a sky, air, light:
a being. And before it started to descend
from the height of noon, it leaned over
and struck my shoulder as if with
the flat of a sword, granting me
honor and a task. The day’s blow
rang out, metallic – or it was I, a bell awakened,
and what I heard was my whole self
saying and singing what it knew: I can.
Variação sobre um
Tema de Rilke
(O Livro das Horas,
Livro I, Poema I, Estrofe I)
Certo dia converteu-se numa presença para mim;
ali estava, confrontando-me – um céu, o ar, a luz:
um ser. E antes que começasse a declinar
desde o pico do meio-dia, inclinou-se
e tocou meu ombro como se com
o lado de uma espada, outorgando-me
honra e uma missão. O estalo do dia
ressoou, metálico – ou era eu mesma, um sino
que despertara, levando-me a ouvir todo o meu ser
a afirmar e cantar o que então compreendera: eu posso.
“Da neigt sich die Stunde und rührt mich an
mit klarem metallenem Schlag:
mir zittern die Sinne. Ich fühle: ich kann –
und ich fasse den plastischen Tag”.
“Declina a hora e me comove
com seu claro estalo metálico:
estremecem-me os sentidos. Eu sinto: eu posso –
e a plasticidade do dia capto”.
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