Alpes Literários

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Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 2 de julho de 2019

G. G. Byron - A Profecia de Dante

Do longo poema de Byron, o poeta e tradutor brasileiro Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992) extraiu o excerto abaixo, do Canto IV (versos 1-19) – o derradeiro canto da profecia –, para o qual, em razão do teor nele expresso, atribuiu-se o subtítulo “O poeta”, em cujo contexto se evidencia a ambiguidade de Byron sobre o papel do vate em relação com a fama – uma vez que os melhores poetas não teriam vertido em palavras a sua inspiração, senão apenas comprimido deus dentro deles, unindo-se a estrelas “sem lauréis” sobre a terra.

 

Muitos críticos literários já perscrutaram o teor da referida passagem de Byron, revelando o quanto de seu conteúdo se acha em conexão com passagens de outros poetas, como John Keats (“The Fall of Hyperion”. A Dream, Cantos I & II, ou, ainda, “Ode on a Grecian Urn”, lines 11-14), e mesmo de si próprio, como em “Prometheus” (Stanza III, lines 35 et seq.).

 

J.A.R. – H.C.

 

George G. Byron

(1788-1824)

 

The Prophecy of Dante

 

The poet

 

Many are Poets who have never penned

Their inspiration, and perchance the best:

They felt, and loved, and died, but would not lend

Their thoughts to meaner beings; they compressed

The God within them, and rejoined the stars

Unlaurelled upon earth, but far more blessed

Than those who are degraded by the jars

Of Passion, and their frailties linked to fame,

Conquerors of high renown, but full of scars.

Many are Poets but without the name;

For what is Poesy but to create

From overfeeling Good or Ill; and aim

At an external life beyond our fate,

And be the new Prometheus of new men,

Bestowing fire from Heaven, and then, too late,

Finding the pleasure given repaid with pain,

And vultures to the heart of the bestower,

Who, having lavished his high gift in vain,

Lies to his lone rock by the sea-shore?

 

Prometheus

(Otto Greiner: pintor alemão)

 

A Profecia de Dante (*)

 

O poeta

 

Muitos são poetas que jamais a inspiração

Puseram por escrito – e os melhores, talvez;

Sentiram e viveram, mas sem concessão

Dos pensamentos seus a nenhum ser mais soez;

Comprimiram o deus em seu interior

E juntaram-se aos astros, sem lauréis na terra,

Mais felizes porém que aqueles que o estridor

Da paixão degenera, e cuja fama encerra

Suas fragilidades, os conquistadores

De alto renome, mas cheios de cicatrizes.

Muitos são poetas, mas do nome são senhores,

Pois que é a poesia mais do que buscar raízes

No bem ou mal ultraemotivos e querer

Uma vida exterior além de nosso fado?

E novo Prometeu do novo homem ser,

Dando o fogo do céu e, tudo consumado,

Vendo o prazer da oferta pago, mas com dor,

E abutres roendo o coração do benfeitor,

Que, tendo dissipado dádiva sem par,

Jaz encadeado num rochedo junto ao mar?

 

Nota do Tradutor:

 

(*). (Canto IV, vv. 1-19.) O poema sobre Dante, em terza rima, tem quatro cantos, que Byron dava como possível prosseguir, se os versos fossem compreendidos e aprovados (BYRON, 2011, p. 113).

 

Referência:

 

BYRON, George Gordon. The prophecy of Dante: the poet / A profecia de Dante: o poeta. Tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: ___________. Poemas. Edição bilíngue. 2. ed. Organização e tradução de Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Hedra, 2011. Em inglês: p. 112; em português: p. 113.

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