Do
longo poema de Byron, o poeta e tradutor brasileiro Péricles Eugênio da Silva
Ramos (1919-1992) extraiu o excerto abaixo, do Canto IV (versos 1-19) – o
derradeiro canto da profecia –, para o qual, em razão do teor nele expresso,
atribuiu-se o subtítulo “O poeta”, em cujo contexto se evidencia a ambiguidade
de Byron sobre o papel do vate em relação com a fama – uma vez que os melhores
poetas não teriam vertido em palavras a sua inspiração, senão apenas comprimido
deus dentro deles, unindo-se a estrelas “sem lauréis” sobre a terra.
Muitos
críticos literários já perscrutaram o teor da referida passagem de Byron,
revelando o quanto de seu conteúdo se acha em conexão com passagens de outros
poetas, como John Keats (“The
Fall of Hyperion”. A Dream, Cantos I & II, ou, ainda, “Ode
on a Grecian Urn”, lines 11-14), e mesmo de si próprio, como
em “Prometheus”
(Stanza III, lines 35 et seq.).
J.A.R. – H.C.
George G. Byron
(1788-1824)
The Prophecy of Dante
The poet
Many are Poets who
have never penned
Their inspiration,
and perchance the best:
They felt, and loved,
and died, but would not lend
Their thoughts to
meaner beings; they compressed
The God within them,
and rejoined the stars
Unlaurelled upon
earth, but far more blessed
Than those who are
degraded by the jars
Of Passion, and their
frailties linked to fame,
Conquerors of high
renown, but full of scars.
Many are Poets but
without the name;
For what is Poesy but
to create
From overfeeling Good
or Ill; and aim
At an external life
beyond our fate,
And be the new
Prometheus of new men,
Bestowing fire from
Heaven, and then, too late,
Finding the pleasure
given repaid with pain,
And vultures to the
heart of the bestower,
Who, having lavished
his high gift in vain,
Lies to his lone rock
by the sea-shore?
Prometheus
(Otto Greiner: pintor
alemão)
A Profecia de Dante (*)
O poeta
Muitos são poetas que
jamais a inspiração
Puseram por escrito –
e os melhores, talvez;
Sentiram e viveram,
mas sem concessão
Dos pensamentos seus
a nenhum ser mais soez;
Comprimiram o deus em
seu interior
E juntaram-se aos
astros, sem lauréis na terra,
Mais felizes porém
que aqueles que o estridor
Da paixão degenera, e
cuja fama encerra
Suas fragilidades, os
conquistadores
De alto renome, mas
cheios de cicatrizes.
Muitos são poetas,
mas do nome são senhores,
Pois que é a poesia
mais do que buscar raízes
No bem ou mal
ultraemotivos e querer
Uma vida exterior além
de nosso fado?
E novo Prometeu do novo
homem ser,
Dando o fogo do céu
e, tudo consumado,
Vendo o prazer da
oferta pago, mas com dor,
E abutres roendo o
coração do benfeitor,
Que, tendo dissipado
dádiva sem par,
Jaz encadeado num
rochedo junto ao mar?
Nota do Tradutor:
(*). (Canto IV, vv.
1-19.) O poema sobre Dante, em terza rima, tem quatro cantos, que
Byron dava como possível prosseguir, se os versos fossem compreendidos e aprovados
(BYRON, 2011, p. 113).
Referência:
BYRON, George Gordon.
The prophecy of Dante: the poet / A profecia de Dante: o poeta. Tradução de
Péricles Eugênio da Silva Ramos. In: ___________. Poemas. Edição bilíngue. 2. ed. Organização e tradução de Péricles
Eugênio da Silva Ramos. São Paulo, SP: Hedra, 2011. Em inglês: p. 112; em
português: p. 113.
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