Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Alistair Elliot - Uma Manhã ao Norte

Mais um poema a revelar o espírito de gratidão de seu autor com as coisas da vida, “essa única vida” de que dispomos para usufruir: urge entrarmos em comunhão com os fatos naturais que, periodicamente, nos evidenciam a sucessão das estações, agregando tempo ao tempo, em perene fluxo que, para nós – limitados a uma existência que não vai mais além de uma centúria –, assoma como a própria eternidade.

Sob a chuva ou o sol ardente, numa paisagem enevoada ou florida e exuberante, a beleza não deixa de estar presente, para alegrar-nos ou fazer-nos recolher ao aconchego do lar: é a combinação dos quatro elementos – água, terra, fogo e ar – presente em tudo quanto existe, assim como se pode ratificar na vasta literatura esotérica.

J.A.R. – H.C.

Alistair Elliot
(1932-2018)

A Northern Morning

It rained from dawn. The fire died in the night.
I poured hot water on some foreign leaves;
I brought the fire to life. Comfort
spread from the kitchen like a taste of chocolate
through the head-waters of a body,
accompanied by that little-water-music.
The knotted veins of the old house tremble and carry
a louder burden: the audience joining in.

People are peaceful in a world so lavish
with the ingredients of life:
the world of breakfast easy as Tahiti.
But we must leave. Head down in my new coat
I dodge to the High Street conscious of my fellows
damp and sad in their vegetable fibres.
But by the bus-stop I look up: the spring trees
exult in the downpour, radiant, clean for hours:
This is the life! This is the only life!

Antibes pela manhã
(Claude Monet: pintor francês)

Uma Manhã ao Norte

Choveu desde o amanhecer. O fogo se extinguiu durante a noite.
Verti água quente sobre algumas folhas estranhas;
conduzi o fogo até a vida. A efusão
se espalhou pela cozinha sabendo a chocolate
através das nascentes de um corpo,
em companhia daquela breve música aquática.
Fremem os veios nodosos da velha casa e levam
um fardo mais barulhento: os ouvintes a participar.

As pessoas são pacíficas num mundo tão pródigo com
os ingredientes da vida:
o mundo do desjejum tão acessível quanto o Taiti.
Temos porém que partir. De cabeça baixa em meu novo agasalho,
dirijo-me à rua principal, consciente de que meus companheiros
estão molhados e desolados em suas fibras vegetais.
Mas na parada do ônibus olho para cima: as árvores
na primavera
exultam sob a chuva torrencial, radiantes, banhadas por horas:
Esta é a vida! Esta é a única vida!

Referência:

ELLIOT, Alistair. A northern morning. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 32.

Nenhum comentário:

Postar um comentário