Mais um poema a revelar o espírito de gratidão de seu autor com as
coisas da vida, “essa única vida” de que dispomos para usufruir: urge entrarmos
em comunhão com os fatos naturais que, periodicamente, nos evidenciam a sucessão
das estações, agregando tempo ao tempo, em perene fluxo que, para nós –
limitados a uma existência que não vai mais além de uma centúria –, assoma como
a própria eternidade.
Sob a chuva ou o sol ardente, numa paisagem enevoada ou florida e
exuberante, a beleza não deixa de estar presente, para alegrar-nos ou fazer-nos
recolher ao aconchego do lar: é a combinação dos quatro elementos – água,
terra, fogo e ar – presente em tudo quanto existe, assim como se pode ratificar
na vasta literatura esotérica.
J.A.R. – H.C.
Alistair Elliot
(1932-2018)
A Northern Morning
It rained from dawn.
The fire died in the night.
I poured hot water on
some foreign leaves;
I brought the fire to
life. Comfort
spread from the
kitchen like a taste of chocolate
through the
head-waters of a body,
accompanied by that
little-water-music.
The knotted veins of
the old house tremble and carry
a louder burden: the
audience joining in.
People are peaceful
in a world so lavish
with the ingredients
of life:
the world of
breakfast easy as Tahiti.
But we must leave.
Head down in my new coat
I dodge to the High
Street conscious of my fellows
damp and sad in their
vegetable fibres.
But by the bus-stop I
look up: the spring trees
exult in the
downpour, radiant, clean for hours:
This is the life!
This is the only life!
Antibes pela manhã
(Claude Monet: pintor
francês)
Uma Manhã ao Norte
Choveu desde o amanhecer.
O fogo se extinguiu durante a noite.
Verti água quente
sobre algumas folhas estranhas;
conduzi o fogo até a
vida. A efusão
se espalhou pela
cozinha sabendo a chocolate
através das nascentes
de um corpo,
em companhia daquela
breve música aquática.
Fremem os veios
nodosos da velha casa e levam
um fardo mais
barulhento: os ouvintes a participar.
As pessoas são
pacíficas num mundo tão pródigo com
os ingredientes da
vida:
o mundo do desjejum
tão acessível quanto o Taiti.
Temos porém que
partir. De cabeça baixa em meu novo agasalho,
dirijo-me à rua
principal, consciente de que meus companheiros
estão molhados e
desolados em suas fibras vegetais.
Mas na parada do
ônibus olho para cima: as árvores
na primavera
exultam sob a chuva
torrencial, radiantes, banhadas por horas:
Esta é a vida! Esta é
a única vida!
Referência:
ELLIOT, Alistair. A northern morning. In:
ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive:
real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 32.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário