Num soneto – qual outra forma poética poderia ser mais apropriada para
se tecer encômios ao maior dos vates lusos?! –, o poeta carioca relembra os
inúmeros contratempos amorosos de Camões, sempre a lastimar afeições que não se
concretizaram por inteiro, como no relacionamento cheio de percalços entre Eurídice
e Orfeu.
E tudo tendo enfrentado – teria sido uma alma “escolhida” para tanto! –,
Camões imortalizou em “Os Lusíadas” as aventuras por que passou o povo
português – e ele próprio –, suas conquistas e desditas, motivo por que não há
quem ouse contestar a identificação de seu nome à própria história da nação
lusitana.
J.A.R. – H.C.
Magalhães de Azeredo
(1872-1963)
Camões
Como Orfeu, desce,
impávido, aos infernos
A libertar da região
sombria
A idolatrada
Eurídice, que um dia
Para sempre o algemou
com braços ternos;
Assim tu, na
conquista dos supernos
Dons da imortal
Eurídice, a Poesia,
Com pé firme em
abismos de agonia
Entraste, a modular
cantos eternos!
Teu gênio foi, ó
Poeta, a própria vida:
Amor, ciúme, exílio,
fome, peste,
Guerra – tudo
afrontaste, alma escolhida!
Inteira a vida do
homem concebeste;
E, não contente, em
ânsia desmedida,
Toda a vida de um
povo ainda viveste!
Luís Vaz de Camões
(1524-1580)
Referência:
AZEREDO, Magalhães de. Camões. In:
__________. Procellarias. Porto, PT:
Typographia a vapor da Empreza Litteraria e Typographica, 1898. p. 33.
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