O excerto abaixo diz respeito à seção 10 (dez) de um longo poema com 11
(onze) seções, de autoria de Galway Kinnell, como se poderá ratificar por meio deste endereço na internet: o autor afirma que a vida
contínua de eremita não é para o ser humano, um ser social – ou melhor,
político – por natureza, como já há mais de dois mil anos afirmara o grande filósofo
estagirita.
Por alguns momentos, ao verter ao português o poema, acorreram-me ‘insights’
da leitura do primeiro volume de “O Segundo Sexo”, de Simone Beauvoir, um amplo
estudo de como se processam os vínculos entre os seres vivos na natureza, com
especial ênfase sobre as relações macho-fêmea e o correspondente ciclo de
reprodução.
J.A.R. – H.C.
Galway Kinnell
(1927-2014)
When one has lived a long time alone
When one has lived a
long time alone,
and the hermit thrush
calls and there is an answer,
and the bullfrog,
head half out of water, remembers
the exact sexual
cantillations of his first spring,
and the snake slides
over the threshold and disappears
among the stones, one
sees they all live
to mate with their
kind, and one knows,
after a long time of
solitude, after the many steps taken
away from one’s kind,
toward the kingdom of strangers,
the hard prayer
inside one’s own singing
is to come back, if
one can, to one’s own,
a world almost lost,
in the exile that deepens,
when one has lived a
long time alone.
Sozinha na cidade
(Svetlana Vorobyeva:
pintora russa)
Quando se viveu muito tempo sozinho
Quando se viveu muito
tempo sozinho,
e o tordo-eremita
chama e obtém uma resposta,
e a rã-touro, com
meia cabeça fora d’água, recorda
as exatas cantilenas
sexuais de sua primavera primeira,
e a serpente desliza
sobre o umbral e desaparece
entre as pedras,
vê-se que todos vivem
para acasalar-se com
os de sua espécie, e sabe-se,
depois de um longo
tempo de solidão, e muitos passos dados
longe dos pares, em
direção ao reino de desconhecidos,
que a fervorosa oração a encerrar o seu próprio canto
postula regressar, se for
possível, por sua conta,
a um mundo quase perdido,
no exílio que se adensa,
quando se viveu muito
tempo sozinho.
Referência:
KINNELL, Galway. When one has loved a
long time alone. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems.
New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 15.
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