Sobre o poema abaixo, o poeta polonês Czeslaw Milosz, tece o seguinte
comentário em sua antologia internacional de poesia “A Book of Luminous Things”
(MILOSZ, 1998, p. 88):
É algo surpreendente que este poema
dramático seja obra de um poeta chinês. Na poesia ocidental, os sonhos de
ascensão são bastante comuns, porque se referem à estrutura vertical do mundo
religioso hespérico. Não é de se estranhar que Dante busque ascender ao
paraíso. Porém aqui temos um voo para cima, seguindo uma deusa em um manto
multicolorido, e, em contraste, a vista repentina da terra embaixo, a pobre
terra do infortúnio, depois de uma invasão.
O que certamente chamou a atenção do autor Nobel no poema foi o fato de
que, em seus versos, nota-se certa fuga do padrão da poesia oriental, voltada
preferencialmente a uma contemplação despojada da natureza, talvez um efeito da
devoção maior aos ensinamentos do zen-budismo.
Obs.: Acima do poema em chinês tradicional, abaixo apresentado, há um ‘link’ sobre o título, em azul, a mostrar a fonte de onde obtive o poema no idioma original. Importa esclarecer que o sítio em apreço mostra-se de inestimável interesse para os apreciadores dos poemas de Li Bai, pois contém toda a obra do poeta chinês, com comentos meritórios para cada um de seus poemas.
Obs.: Acima do poema em chinês tradicional, abaixo apresentado, há um ‘link’ sobre o título, em azul, a mostrar a fonte de onde obtive o poema no idioma original. Importa esclarecer que o sítio em apreço mostra-se de inestimável interesse para os apreciadores dos poemas de Li Bai, pois contém toda a obra do poeta chinês, com comentos meritórios para cada um de seus poemas.
J.A.R. – H.C.
Li Bai
(701 d.C. - 762 d.C.)
西上莲花山,迢迢见明星。
素手把芙蓉,虚步蹑太清。
霓裳曳广带,飘拂升天行。
邀我登云台,高揖卫叔卿。
恍恍与之去,驾鸿凌紫冥。
俯视洛阳川,茫茫走胡兵。
流血涂野草,豺狼尽冠缨。
Lótus
(John Lautermilch:
pintor norte-americano)
A oeste, subindo ao cume da Flor de
Lótus
gu feng dezenove
A oeste, subindo ao
cume da Flor de Lótus (1),
olho, ao longe, a Estrela da Manhã.
Alta no firmamento,
viaja no espaço,
suas mãos puras colhem flores de lótus,
seu vestido de
arco-íris, sua cintura ondulante
flutuam ao vento enquanto percorre os céus.
Convida-me a entrar
no Terraço das Nuvens,
reverencio o velho Wei Shuqing (2),
acompanho-o no meu
sonho
e cavalgo um ganso selvagem por entre névoa púrpura.
Depois deixo cair o
olhar sobre a planície de Luoyang
e vejo, no meio da bruma, avançar o exército tártaro (3).
As ervas dos caminhos
estão vermelhas de sangue,
lobos e chacais usam chapéus de mandarim.
Notas do Tradutor:
(1). O cume da Flor de Lótus é o ponto
mais alto da montanha Hua, uma das cinco montanhas sagradas da velha China.
Dizia-se que no cume existia um lago onde cresciam flores de lótus capazes de
transformar homens em seres imortais.
(2). Wei Shuqing, que viveu durante a
dinastia Han e alcançou a imortalidade depois de beber uma infusão de mica, é
exatamente um desses imortais habitantes da montanha Hua.
(3). Alusão à rebelião de An Lushan,
general rebelde que tomou Luoyang em 756 e lançou o caos e a morte sobre o império
chinês.
Referências:
BAI, Li. A oeste, subindo ao cume da flor
de lótus. Tradução de António Graça de Abreu. In: __________. Poemas de Li
Bai. Tradução, prefácio e notas de António Graça de Abreu. Macau (MO):
Instituto Cultural de Macau, 1990. p. 217.
MILOSZ, Czeslaw (Ed.). A book of luminous things: an
international anthology of poetry. 1st. ed. New York, NY: Houghton Mifflin
Harcourt, 1998.
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