Muito antes que chegasse ao ponto do “canto do cisne”, o poeta se diz
mudo e em busca contínua e secular, neste esboço lírico: procura ele pela
água que compõe o belo efeito do arco-íris, tangível como tudo mais, embora
pareça não ter substância – assim como o não-ser a que se reporta o vate
romeno.
Em sua irredutível e absoluta pátria imaginária, o imaculado dos
espíritos, explico-me melhor, dos seres humanos, tomou o lugar do verbo, ou
seja, da palavra, permitindo-lhe superar os limites do conhecimento, de sorte
que essa paisagem mítica suscitou um fértil mundo de imagens inovadoras,
presente em suas criações poéticas.
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Autoportret
Lucian Blaga e mut ca
o lebădă.
În patria sa
zăpada făpturii ține
loc de cuvânt.
Sufletul lui e în căutare,
în mută, seculară căutare,
de totdeauna,
și până la cele din urmă hotare.
El caută apa din care bea curcubeul.
El caută apa
din care curcubeul
își bea frumusețea și
neființa.
(1943)
Paisagem com um arco-íris
(Peter Paul Rubens:
pintor flamengo)
Autorretrato
Lucian Blaga está
mudo como um cisne.
Em sua pátria
a neve dos seres
tomou o lugar do Verbo.
Seu espírito reside
em buscar,
em muda busca
secular,
desde sempre,
e até ao último
lugar.
Ele busca a água de
que bebe o arco-íris.
Ele busca a água,
de que o arco-íris
bebe sua beleza e seu
não-ser.
(1943)
Referência:
BLAGA, Lucian. Autoportret /
Autorretrato. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e
introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005.
Em romeno: p. 30; em português: p. 31. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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