A autora deste poema presta homenagem aos seus ascendentes, de origem irlandesa,
emigrantes a terras distantes, em especial a Inglaterra e, sobretudo, os Estados
Unidos: relembra ela a época dura por que passaram, provavelmente em terras
americanas, durante a grande depressão econômica de fins dos anos 20.
O uso de lampiões a óleo, preferencialmente na parte de trás das residências,
serve de mote para relembrar a luz transmitida pelos antepassados, que expostos
a situações de trabalho precárias ou mesmo ao desemprego, lograram transmitir
às gerações subsequentes, mais do que suas posses, a força de vontade e a sobriedade
necessárias para superar momentos difíceis na vida.
J.A.R. – H.C.
Eavan Boland
(n. 1944)
The Emigrant Irish
Like oil lamps, we
put them out the back –
of our houses, of our
minds. We had lights
better than, newer
than and then
a time came, this
time and now
we need them. Their
dread, makeshift example:
they would have
thrived on our necessities.
What they survived we
could not even live.
By their lights now
it is time to
imagine how they
stood there, what they stood with,
that their
possessions may become our power:
Cardboard. Iron.
Their hardships parceled in them.
Patience. Fortitude.
Long-suffering
in the bruise-colored
(*) dusk of the New World.
And all the old
songs. And nothing to lose.
Os Emigrantes
(Hans Baluschek:
pintor alemão)
O Emigrante Irlandês
Como lamparinas a
óleo, nós as colocamos na parte de trás –
de nossas casas, de
nossas mentes. Tínhamos luzes
melhores e mais
novas, e então
chegou um momento,
este momento, e agora
precisamos delas. Seu
terrível, improvisado exemplo:
eles teriam
prosperado perante nossas necessidades.
Como sobreviveram,
sequer poderíamos viver.
Com foco em suas
luzes, agora é o momento para
imaginar como se sustentaram
ali, com o que se sustentaram,
para que suas posses
pudessem converter-se em nosso poder:
Papelão. Ferro. Suas
privações nelas parceladas.
Paciência. Fortaleza.
Sofrimentos prolongados
no crepúsculo azul-violáceo
do Novo Mundo.
E todas as velhas
canções. E nada a perder.
Nota:
(*). A expressão “bruise-colored”
denota semelhança do tom do crepúsculo a qualquer uma das cores de uma pele
machucada, em especial o lilás e o azul; daí a preferência por torná-lo
expresso, e não optando por uma tradução mais aproximada do literal, que,
talvez, deixaria o verso meio – como diria? – truncado.
Referência:
BOLAND, Eavan. The emigrant irish. In:
PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s
favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W.
Norton, 2000. p. 27.
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