A exuberância imaginativa do poeta não é acompanhada do necessário zelo
para se fixar de alguma forma indelével, em qualquer meio tangível – e não
apenas na memória – todos os ‘insights’ capazes de resultar em belos poemas que
possam ser usufruídos pelos seus leitores.
De qualquer modo, o que se percebe pelo livro de onde extraí o poema
infratranscrito é que a inspiração e o impulso criativo de Affonso Romano são de
tal ordem que o desperdício de um poema a mais ou a menos talvez não faça tanta
diferença. Afinal, a obra em referência alberga, provavelmente, o que de melhor
o poeta produziu nas últimas décadas: um jorro de intensa beleza!
J.A.R. – H.C.
Affonso Romano de Sant’Anna
(n. 1937)
Perdas Poéticas
Perco, em média, três
poemas por semana
por desatenção e
desmazelo.
Ainda há pouco um
solicitou-me a atenção
e perdulário fingi
não vê-lo.
Ah, o que perco por
soberba
o que perco talvez
por não aceitar
o que eu mesmo me
ofereço.
Os que me vêem passar
me pensam rico, no
entanto,
o que perdi não tinha
preço.
A escada da evasão
(Joan Miró: pintor
espanhol)
Referência:
SANT’ANNA, Affonso Romano de. Perdas
poéticas. In: __________. Vestígios.
Rio de Janeiro, RJ: Rocco, 2005. p. 78.
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