Apesar de, em nenhum momento se mencionar a palavra amor ou amante no
poema de Atwood, presume-se que a poetisa esteja aduzindo àqueles momentos em
que estamos ainda acordados na cama e presenciamos o sono do(a) parceiro(a), ao
nosso lado, até o ponto de estado mais profundo, quando os sonhos vêm habitar a
mente subconsciente.
Tencionando passar despercebido, o ente lírico, ainda assim, pretende-se
necessário ao estado onírico daquele(a) que lhe faz companhia, permitindo-se
penetrar no bosque metafórico das ondulações mentais, alcançando uma gruta onde
repousa o seu corpo. De lá, aspira a resgatá-lo, apartando-o de todos os males –
medos e pesares. Conseguirá? Um vaticínio: pode-se ser íntimo ao extremo de
alguém, mas o que lhe vai no mais íntimo do espírito nos permanece intocável
para sempre...
J.A.R. – H.C.
Margaret Atwood
(n. 1939)
Variation on the Word Sleep
I would like to watch
you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch
you,
sleeping. I would
like to sleep
with you, to enter
your sleep as its
smooth dark wave
slides over my head
and walk with you
through that lucent
wavering forest of
bluegreen leaves
with its watery sun
& three moons
towards the cave
where you must descend,
towards your worst
fear
I would like to give
you the silver
branch, the small
white flower, the one
word that will
protect you
from the grief at the
center
of your dream, from
the grief
at the center. I
would like to follow
you up the long
stairway
again & become
the boat that would
row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body
lies
beside me, and you
enter
it as easily as
breathing in
I would like to be
the air
that inhabits you for
a moment
only. I would like to
be that unnoticed
& that necessary.
Titânia dormindo ao luar
protegida por suas fadas
(John Simmons: pintor
inglês)
Variação sobre a Palavra Dormir
Gostaria de
observar-te enquanto dormes,
algo que talvez não
ocorra.
Gostaria de
observar-te,
enquanto dormes.
Gostaria
de dormir contigo, de
penetrar
em teu sono enquanto
a sua onda suave e escura
desliza sobre minha
cabeça
e caminhar contigo
através dessa luzente
e ondulante floresta
de folhas verde-azuladas
com o seu sol desbotado
e três luas
rumo à gruta a que
deves descer,
até o pior de teus
medos
Gostaria de dar-te o
ramo de prata,
a pequena flor
branca, a única
palavra que irá
proteger-te
da aflição no cerne
do teu sonho, da
aflição
no cerne. Gostaria de
seguir-te
outra vez pela longa
escadaria e converter-me
no barco que te traria
de volta
com cuidado, uma
chama
em duas mãos arqueadas
até onde repousa o
teu corpo
ao meu lado, no qual adentras
tão facilmente quanto
um respiro
Gostaria de ser o ar
que te habita por um
momento
apenas. Gostaria de
ser tão despercebida
e tão necessária.
Referência:
ATWOOD, Margaret. Variation on the word
sleep. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New
York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 12-13.
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