Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de maio de 2019

Margaret Atwood - Variação sobre a Palavra Dormir

Apesar de, em nenhum momento se mencionar a palavra amor ou amante no poema de Atwood, presume-se que a poetisa esteja aduzindo àqueles momentos em que estamos ainda acordados na cama e presenciamos o sono do(a) parceiro(a), ao nosso lado, até o ponto de estado mais profundo, quando os sonhos vêm habitar a mente subconsciente.

Tencionando passar despercebido, o ente lírico, ainda assim, pretende-se necessário ao estado onírico daquele(a) que lhe faz companhia, permitindo-se penetrar no bosque metafórico das ondulações mentais, alcançando uma gruta onde repousa o seu corpo. De lá, aspira a resgatá-lo, apartando-o de todos os males – medos e pesares. Conseguirá? Um vaticínio: pode-se ser íntimo ao extremo de alguém, mas o que lhe vai no mais íntimo do espírito nos permanece intocável para sempre...

J.A.R. – H.C.

Margaret Atwood
(n. 1939)

Variation on the Word Sleep

I would like to watch you sleeping,
which may not happen.
I would like to watch you,
sleeping. I would like to sleep
with you, to enter
your sleep as its smooth dark wave
slides over my head

and walk with you through that lucent
wavering forest of bluegreen leaves
with its watery sun & three moons
towards the cave where you must descend,
towards your worst fear

I would like to give you the silver
branch, the small white flower, the one
word that will protect you
from the grief at the center
of your dream, from the grief
at the center. I would like to follow
you up the long stairway
again & become
the boat that would row you back
carefully, a flame
in two cupped hands
to where your body lies
beside me, and you enter
it as easily as breathing in

I would like to be the air
that inhabits you for a moment
only. I would like to be that unnoticed
& that necessary.

Titânia dormindo ao luar
protegida por suas fadas
(John Simmons: pintor inglês)

Variação sobre a Palavra Dormir

Gostaria de observar-te enquanto dormes,
algo que talvez não ocorra.
Gostaria de observar-te,
enquanto dormes. Gostaria
de dormir contigo, de penetrar
em teu sono enquanto a sua onda suave e escura
desliza sobre minha cabeça

e caminhar contigo através dessa luzente
e ondulante floresta de folhas verde-azuladas
com o seu sol desbotado e três luas
rumo à gruta a que deves descer,
até o pior de teus medos

Gostaria de dar-te o ramo de prata,
a pequena flor branca, a única
palavra que irá proteger-te
da aflição no cerne
do teu sonho, da aflição
no cerne. Gostaria de seguir-te
outra vez pela longa
escadaria e converter-me
no barco que te traria de volta
com cuidado, uma chama
em duas mãos arqueadas
até onde repousa o teu corpo
ao meu lado, no qual adentras
tão facilmente quanto um respiro

Gostaria de ser o ar
que te habita por um momento
apenas. Gostaria de ser tão despercebida
e tão necessária.

Referência:

ATWOOD, Margaret. Variation on the word sleep. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 12-13.

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