Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Glauco Matoso - Soneto Sintético

A discorrer sobre o conteúdo e a forma do poema, Mattoso formula uma síntese do que deve haver em todas as criações poéticas para que o resultado satisfaça o autor, tanto quanto o leitor: segundo ele, há “química” no verso, não “dom”, talvez com isso querendo afirmar que o poema é mais um esforço deliberado de compor versos com palavras adequadas e bem ajustadas, do que o efeito de um dom inato, restrito a apenas alguns.

Afirma-se, no soneto, que a partir do que se define como poesia se traça a trajetória de cada poeta, isto é, abraçado a uma espécie de programa previamente delimitado, toma o poeta um determinado rumo, como no caso das várias escolas literárias, a exemplo dos modernistas – rompendo com a métrica do verso –, e seus inúmeros consectários, como no caso dos concretistas.

J.A.R. – H.C.

Glauco Mattoso
(n. 1951)

Soneto Sintético

De como a poesia é definida
depende a trajetória do poeta.
Qual é, pergunto, a fórmula secreta
que traça em poucas linhas uma vida?

Segundo Rilke, a lira não duvida.
mas Eliot é turrão, e tudo objeta.
Bashô quanto mais crê menos se aquieta.
Pessoa diz que é fé na dor fingida.

Divergem tantos mestres só no tom.
Não há por que dar tratos ao bestunto:
há química no verso, não um dom.

Qualquer opinião, qualquer assunto
será, verdade ou não, poema bom
se for densa a fração, breve o conjunto.

Em: “Panaceia” (2000)

Os Poetas
(Renato Birolli: pintor italiano)

Referência:

MATTOSO, Glauco. Soneto sintético. In: ASCHER, Nelson et al. Poetas na biblioteca: antologia. São Paulo, SP: Fundação Memorial da América Latina, 2001. p. 111.

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