Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 21 de maio de 2019

Jorge Luis Borges - O Labirinto

O ente lírico sente-se enredado num labirinto em sua vida neste planeta, e constata que nem um Deus supremo – como o Zeus grego – seria capaz de desvencilhá-lo desse dédalo que o faz percorrer noites e dias para se aproximar da sombra de um outro – que também é ele mesmo – vindo este das regiões de Hades, vale dizer, do reino dos mortos.

Esse híbrido que muitos já fora – sorvendo vidas e vidas a cada ano –, mas de cuja memória deslembrou, vivencia tal singular experiência de solidão como uma armadilha do destino, trancafiado no tempo e no espaço: pobre Minotauro a expiar a culpa dos fatos desditosos de sua origem...

J.A.R. – H.C.

Jorge Luis Borges
(1899-1986)

El Laberinto

Zeus no podría desatar lãs redes
de piedra que me cercan. He olvidado
los hombres que antes fui; sigo el odiado
camino de monótonas paredes
que es mi destino. Rectas galerías
que se curvan en círculos secretos
al cabo de los años. Parapetos
que ha agrietado la usura de los días.
En el pálido polvo he descifrado
rastros que temo. El aire me ha traído
en las cóncavas tardes un bramido
o el eco de un bramido desolado.
Sé que en la sombra hay Otro, cuya suerte
es fatigar las largas soledades
que tejen y destejen este Hades
y ansiar mi sangre y devorar mi muerte.
Nos buscamos los dos. Ojalá fuera
éste el último día de la espera.

En: “Elogio de la Sombra” (1969)

Perdido no Labirinto
(Philip Arnzen-Jones: pintor norte-americano)

O Labirinto

Nem Zeus desataria essas redes
de pedra que me cercam. Olvidado
dos homens que antes fui, sigo o odiado
caminho de monótonas paredes
que é meu destino. Retas galerias
encurvando-se em círculos secretos
com o passar dos anos. Parapeitos
que se racharam na usura dos dias.
Já decifrei no pó esbranquiçado
rastros que temo. Tenho percebido
no ar das côncavas tardes um rugido
ou o eco de um rugido desolado.
Sei que na sombra há Outro, cuja sorte
é exaurir as solidões sem fim
que este Hades fiam e desfiam,
sugar meu sangue e devorar minha morte.
Nós dois nos procuramos. Quem me dera
fosse este o dia último da espera.

Em: “Elogio da Sombra” (1969)

Referência:

BORGES, Jorge Luis. El laberinto / O laritinto. Tradução de Josely Vianna Baptista. In: __________. Nova antología pessoal. Traduções de Davi Arrigucci Jr., Heloisa Jahn e Josely Vianna Baptista. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2013. Em espanhol: p. 291; em português: p. 27.

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