Bly, neste poema, põe-se a valorizar a unicidade do físico e do
espiritual, pois mesmo a realidade pode ser apreciada como se um sonho fosse,
prestando-se tal ‘insight’ a um diálogo intercultural com as ideias orientais do
yin e do yang – tanto mais que no mundo exterior podem ser encontradas sendas
místicas capazes de nos levar a um território psíquico deslumbrante.
No turbilhão das veias corre o magma do estresse diário que, nalgum
momento, deve-se externalizar: o capitão do navio liberou temporariamente a
tripulação para cantar e dançar num território que lhe é familiar – como a
cozinha –, relegando a um segundo plano o estado de “consciência noturna”, num
mar turbilhonado pelas criaturas que emergem de nossos mais dissimulados traumas.
J.A.R. – H.C.
Robert Bly
(n. 1926)
Waking from Sleep
Inside the veins
there are navies setting forth,
Tiny explosions at
the waterlines,
And seagulls weaving
in the wind of the salty blood.
It is the morning.
The country has slept the whole winter.
Window seats were
covered with fur skins, the yard was full
Of stiff dogs, and
hands that clumsily held heavy books.
Now we wake, and rise
from bed, and eat breakfast! –
Shouts rise from the
harbor of the blood,
Mist, and masts
rising, the knock of wooden tackle in
the sunlight.
Now we sing, and do
tiny dances on the kitchen floor.
Our whole body is
like a harbor at dawn;
We know that our
master has left us for the day.
Momentos ao Sol
(Michael & Inessa
Garmash: casal russo-ucraniano)
Ao Despertar do Sono
No interior das veias
há marinhas pondo-se em marcha,
Pequenas explosões
nas linhas d’água,
E gaivotas a
ziguezaguear ao vento do sangue salgado.
É de manhã. O campo
hibernou durante todo o inverno.
Peles cobriam os
peitoris das janelas, o pátio estava cheio
De cães agressivos, e
mãos desajeitadas seguravam pesados
livros.
Agora despertamos,
levantamos da cama e tomamos o café! –
Elevam-se gritos
vindos do porto de sangue,
Névoas e mastros
subindo, o tranco do cadernal de madeira
à luz do sol.
Agora cantamos, com
breves danças sobre o chão da cozinha.
Nosso corpo inteiro é
como um porto ao amanhecer.
Sabemos que o nosso
capitão, por hoje, resolveu ausentar-se.
Referência:
BLY, Robert. Waking from sleep. In:
DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology
of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p.
243.
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