Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Robert Bly - Ao Despertar do Sono

Bly, neste poema, põe-se a valorizar a unicidade do físico e do espiritual, pois mesmo a realidade pode ser apreciada como se um sonho fosse, prestando-se tal ‘insight’ a um diálogo intercultural com as ideias orientais do yin e do yang – tanto mais que no mundo exterior podem ser encontradas sendas místicas capazes de nos levar a um território psíquico deslumbrante.

No turbilhão das veias corre o magma do estresse diário que, nalgum momento, deve-se externalizar: o capitão do navio liberou temporariamente a tripulação para cantar e dançar num território que lhe é familiar – como a cozinha –, relegando a um segundo plano o estado de “consciência noturna”, num mar turbilhonado pelas criaturas que emergem de nossos mais dissimulados traumas.

J.A.R. – H.C.

Robert Bly
(n. 1926)

Waking from Sleep

Inside the veins there are navies setting forth,
Tiny explosions at the waterlines,
And seagulls weaving in the wind of the salty blood.

It is the morning. The country has slept the whole winter.
Window seats were covered with fur skins, the yard was full
Of stiff dogs, and hands that clumsily held heavy books.

Now we wake, and rise from bed, and eat breakfast! –
Shouts rise from the harbor of the blood,
Mist, and masts rising, the knock of wooden tackle in
the sunlight.

Now we sing, and do tiny dances on the kitchen floor.
Our whole body is like a harbor at dawn;
We know that our master has left us for the day.

Momentos ao Sol
(Michael & Inessa Garmash: casal russo-ucraniano)

Ao Despertar do Sono

No interior das veias há marinhas pondo-se em marcha,
Pequenas explosões nas linhas d’água,
E gaivotas a ziguezaguear ao vento do sangue salgado.

É de manhã. O campo hibernou durante todo o inverno.
Peles cobriam os peitoris das janelas, o pátio estava cheio
De cães agressivos, e mãos desajeitadas seguravam pesados
livros.

Agora despertamos, levantamos da cama e tomamos o café! –
Elevam-se gritos vindos do porto de sangue,
Névoas e mastros subindo, o tranco do cadernal de madeira
à luz do sol.

Agora cantamos, com breves danças sobre o chão da cozinha.
Nosso corpo inteiro é como um porto ao amanhecer.
Sabemos que o nosso capitão, por hoje, resolveu ausentar-se.

Referência:

BLY, Robert. Waking from sleep. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 243.

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