O poeta aspira por ineditismo em suas palavras ao dirigir-se à amada, ou
melhor, abdicar do uso de expressões ou vocábulos por demais batidos, embora o
que busque, ao fim, é falar do mais relatado sentimento a envolver os seres
humanos: o amor.
E como certamente não logrará obter palavras que jamais tenham sido
ditas, recolher-se-á ao silêncio, uma outra forma de linguagem, talvez até mais
eloquente, por meio da qual espera chegar até o reduto último onde o
sentimento impera: o coração.
J.A.R. – H.C.
Mauro Sampaio
(1917- 2000?)
Não te darei palavras...
Não te darei palavras
vulgares.
Quero-as originais.
Por isso
Criei vocabulário só
teu
Onde os gestos falam
mais que palavras,
Os olhos participam
mais do entendimento
E as mãos traduzem
melhor as frases
Que nunca serão
ditas.
Não as quero viciadas
pelo uso,
Ensebadas no
manuscrito dos dicionários,
Lidas nos livros!
Quero-as assim
iluminadas como o teu sorriso,
Persuasivas como ramalhetes
de rosas,
Puras como raio de
luar.
Não te darei palavras
banais.
Abrirei teu coração
com o meu silêncio...
Buquê de Rosas
(Pierre-Auguste
Renoir: pintor francês)
Referência:
SAMPAIO, Mauro. Não te darei
palavras... In: __________. Versos.
2. ed. Rio de Janeiro, GB: Pongetti, 1971. p. 58.
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