Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 5 de maio de 2019

Mauro Sampaio - Não te darei palavras...

O poeta aspira por ineditismo em suas palavras ao dirigir-se à amada, ou melhor, abdicar do uso de expressões ou vocábulos por demais batidos, embora o que busque, ao fim, é falar do mais relatado sentimento a envolver os seres humanos: o amor.

E como certamente não logrará obter palavras que jamais tenham sido ditas, recolher-se-á ao silêncio, uma outra forma de linguagem, talvez até mais eloquente, por meio da qual espera chegar até o reduto último onde o sentimento impera: o coração.

J.A.R. – H.C.

Mauro Sampaio
(1917- 2000?)

Não te darei palavras...

Não te darei palavras vulgares.
Quero-as originais.
Por isso
Criei vocabulário só teu
Onde os gestos falam mais que palavras,
Os olhos participam mais do entendimento
E as mãos traduzem melhor as frases
Que nunca serão ditas.

Não as quero viciadas pelo uso,
Ensebadas no manuscrito dos dicionários,
Lidas nos livros!

Quero-as assim iluminadas como o teu sorriso,
Persuasivas como ramalhetes de rosas,
Puras como raio de luar.

Não te darei palavras banais.
Abrirei teu coração com o meu silêncio...

Buquê de Rosas
(Pierre-Auguste Renoir: pintor francês)

Referência:

SAMPAIO, Mauro. Não te darei palavras... In: __________. Versos. 2. ed. Rio de Janeiro, GB: Pongetti, 1971. p. 58.

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