Este poema pertence a um autor provavelmente nascido em Lorena (SP),
Benedito José de Moraes Castro, do qual não consegui obter qualquer outra informação,
senão a de que, talvez, tenha sido escrivão de polícia naquela cidade do
interior paulista.
Apesar da referência espacial, o que se descreve no poema mais parece
alguma cena interiorana de uma daquelas cidades históricas mineiras, na qual o turista
é capaz de projetar o que se passou quando inseridas no contexto colonial
pátrio, os escravos ainda longe de serem libertos, a despeito do difundido
espírito religioso cristão.
Mas há um referente nas reminiscências que não pode ser deslembrado: a
menção aos cafezais leva-nos de volta ao provável Vale do Paraíba, no litoral
norte de São Paulo, mais ou menos onde situa-se Lorena...
J.A.R. – H.C.
Igreja Mineira
(Athayde Lopes:
pintor paulista)
Reminiscências
Prisioneiro das
paredes
do velho campanário
da Igreja da Senhora
Santana,
testemunha da era
colonial,
o grande sino de
bronze,
seresteiro das
Ave-Marias,
com seu tanger
soturno,
contempla o céu
turquesa
mesclado de
cirros-cúmulos...
Ao longe, o morro do
Rossio
à luz do sol matinal,
com os casebres
amarelados.
O conjunto
arquitetônico
de antigos sobradões
que falam dos
antepassados,
dos capitães e
coronéis,
das moedas de ouro e
vinténs...
Prisioneiro das
paredes
do velho campanário,
o grande sino de
bronze
relembra-se saudoso
das senzalas e do
pelourinho,
dos plangentes carros
de bois.
Das sinhás-moças e
mucamas,
dos endiabrados
capatazes
e os capitães de
mato.
Dos verdes e copados
cafezais
salpicados do sangue
de escravos...
Penitente dos
penitentes
soluça tristonho,
recordando-se
das donzelas de
tranças douradas
que vinham à missa e
à reza,
como anjos a
adornarem
a Igreja da Senhora
Santana
..........................................
Mensageiro místico –
és o eterno enamorado
das manhãs primaveris
e das noites
consteladas...
Tu e eu
somos constantes
sonhadores...
A Hora da Reza
(Athayde Lopes: pintor paulista)
Referência:
CASTRO, B. J. Moraes. Reminiscências.
In: __________. Em busca do infinito.
1. ed. São Paulo, SP: Escolas Profissionais Salesianas, 1991. p. 18-19.
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