Com enredo invariável – obviamente a tratar de bebidas, mulheres e sexo –,
temos aqui mais um poema descritivo de Bukowski, que tinha o dom de expor em
rápidas linhas as ocorrências mais corriqueiras que lhe aconteceram em vida,
fazendo decantar no espírito de seus leitores a matéria de seu ‘modus vivendi’
dissoluto.
Coloquem-se em perspectiva as duas formas de tratar os seus
interlocutores do outro lado da linha, a depender de ser homem ou mulher: ali,
com suficiente indiferença, para que não fossem assediá-lo com entrevistas
e presenças inoportunas; aqui, com toda a deferência possível, inclusive convidando-as
para um drinque em casa, que, acredite-se, quase nunca terminava em... sexo.
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
how come you’re not unlisted?
the men phone and ask
me that.
are you really
Charles Bukowski
the writer? they ask.
I’m a sometimes
writer, I say,
most often I don’t do
anything.
listen, they ask, I
like your
stuff – do you mind
if I come
over and bring a
couple of 6
packs?
you can bring them, I
say
if you don’t come
in...
when the women phone,
I say,
o yes, I write, I’m a writer
only I’m not writing
right now.
I feel foolish
phoning you,
they say, and I was
surprised
to find you listed in
the phone book.
I have reasons, I
say,
by the way why don’t
you come over
for a beer?
you wouldn’t mind?
and they arrive
handsome women
good of mind and body
and eye.
often there isn’t sex
but I’m used to that
yet it’s good
very good just to
look at them –
and some rare times
I have unexpected good
luck
otherwise.
for a man of 55 who
didn’t get laid
until he was 23
and not very often
until he was 50
I think that I should
stay listed
via Pacific Telephone
until I get as much
as
the average man has
had.
of course, I’ll have
to keep
writing immortal
poems
but the inspiration
is there.
Retrato de duas mulheres
(Diego Rivera: pintor
mexicano)
como você não está fora da lista?
os homens ligam e me
perguntam isto.
você é realmente
Charles Bukowski
o escritor?
sou escritor de vez
em quando, eu digo,
na maior parte do
tempo eu não faço nada.
escute, eles dizem,
eu gosto das suas
coisas – se importa
se eu aparecer aí
com uma dúzia de
latinhas?
você pode trazê-las,
eu digo
desde que não
entre...
quando as mulheres
ligam, eu digo,
ó, sim, escrevo, sou um escritor
apenas não estou
escrevendo nada
neste exato momento.
me sinto tola ligando
para você,
elas dizem, e fiquei
surpresa
de achar seu nome na
lista telefônica.
tenho meus motivos,
eu digo,
a propósito, por que
você não aparece
pra tomar uma
cerveja?
você não se
importaria?
e elas chegam
mulheres lindas
boas de corpo e mente
e olho.
frequentemente não há
sexo
mas estou acostumado
ainda assim é bom
bom demais apenas
olhar para elas...
e em alguns raros
momentos
tenho uma maré
inesperada de sorte
para variar.
para um homem de 55
que não transou
até os 23
e não muitas vezes
mais até os 50
creio que deva
continuar listado
na Pacific Telephone
até conseguir o mesmo
número de mulheres
que os homens normais
conseguiram.
claro, terei que
continuar
escrevendo poemas
imortais
mas a inspiração está
lá.
Referências:
Em Inglês
BUKOWSKI, Charles. how come you’re not unlisted? In: __________. Love is a dog from hell: poems, 1974-1977. Santa
Barbara, CA: Black Sparrow Press, 1977. p. 152-153.
Em Português
BUKOWSKI, Charles. como você não está
fora da lista? Tradução de Pedro Gonzaga. In: __________. O amor é um cão dos
diabos. Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p.
149-150. (Coleção ‘L&PM Pocket’, v. 888)
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