O céu começa a escurecer e a luz espreita a cena a partir de seu
escaninho. E então o orador descreve como aspira a fazer parte desse panorama.
O céu e o que tudo à volta se encontra parecem rejeitá-lo, continuando em seus
ciclos com indiferença. É o que se depreende da segunda estrofe do poema: não
estaria mais disponível ao autor a concretização de um desejo por
transcendência, ainda que a busque pela aspereza divina.
Pergunto-me aqui entre os meus botões: será, de fato, que as coisas no
universo transcorrem desse modo, assustadoramente indiferentes, mecânicas e
destituídas de sentido? Teremos que dar vazão ao ceticismo frente ao sagrado e
ao religioso? E essa dimensão religiosa tem, necessariamente, de perpassar pelo
punitivismo e pela penitência? De todo modo, transformamo-nos em cada passo,
muito embora nem sempre do modo como gostaríamos que ocorresse...
J.A.R. – H.C.
Charles Wright
(n. 1935)
Clear Night
Clear night,
thumb-top of a moon, a back-lit sky.
Moon-fingers lay down
their same routine
On the side deck and
the threshold, the white keys
and the black keys.
Bird hush and bird
song. A cassia flower falls.
I want to be bruised
by God.
I want to be strung
up in a strong light and singled out.
I want to be
stretched, like music wrung from a
dropped seed.
I want to be entered
and picked clean.
And the wind says
“What?” to me.
And the castor beans,
with their little earrings of death,
say “What?” to me.
And the stars start
out on their cold slide through the dark.
And the gears notch
and the engines wheel.
Uma Noite Clara
(Christine Wasankari:
pintora norte-americana)
Noite Clara
Noite clara, a ponta
de polegar de uma lua, um céu
iluminado por trás.
Os dedos lunares assentam
a sua mesma rotina
Sobre a coberta
lateral e a entrada, as teclas brancas
e as teclas pretas.
Há silêncio e canto
de pássaros. Cai uma flor de cássia.
Quero ser fustigado por
Deus.
Quero ser suspenso
numa luz intensa e escolhido.
Quero ser estirado,
como música despegada de uma
semente deixada cair.
Quero ser incluído e
recolhido puro.
E o vento diz “o quê?”
para mim.
E as mamoneiras, com
seus pequenos e mortais brincos,
dizem-me “o quê? ”
E as estrelas começam
a deslizar pelo céu frio e escuro.
E giram os dentes das
engrenagens e as rodas dos motores.
Referência:
WRIGHT, Charles. Clear night. In:
McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book
of contemporary american
poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books
(A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 393.
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