Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Thomas Hardy - Acaso

Tema que repetidas vezes retorna na ficção e na poesia de Hardy, a aparente aleatoriedade do acaso, capaz de nos colocar sob a alçada da fortuna ou do infortúnio, deixa transparecer, a seu ver, a ausência de um plano divino para os homens, não se podendo acreditar em um deus benevolente ou malévolo, de quem seríamos como que meras briguelas autômatas.

Vemos, então, a contingência e a imprevisibilidade a braços dados com o tempo, para ensejar genuínos problemas, capazes de acarretar má sorte e tribulações, às quais Hardy se submete em resignada amargura, reconhecendo-as imerecidas, do que se infere que contemplava a vida como uma jornada sob o signo da dor e do sofrimento, sem que se possa conhecer das razões que presidem os fatos.

J.A.R. – H.C.


Thomas Hardy
(1840-1928)

Hap

 

If but some vengeful god would call to me

From up the sky, and laugh: “Thou suffering thing,

Know that thy sorrow is my ecstasy,

That thy love’s loss is my hate’s profiting!”

 

Then would I bear it, clench myself, and die,

Steeled by the sense of ire unmerited;

Half-eased in that a Powerfuller than I

Had willed and meted me the tears I shed.

 

But not so. How arrives it joy lies slain,

And why unblooms the best hope ever sown?

– Crass Casualty obstructs the sun and rain,

And dicing Time for gladness casts a moan...

These purblind Doomsters had as readily strown

Blisses about my pilgrimage as pain.

 

(1866)

 

In: “Wessex poems and other verses”


Concerto em companhia de uma quiromante
(Valentin de Boulogne: pintor francês)

Acaso

 

Se ao menos do alto me chamasse um deus

De ódio, e risse: “Ó homem coisa-dor,

Teu sofrimento é o júbilo dos céus,

Teu deve-amor é o meu haver-rancor”,

 

Eu me conformaria, indo ao extremo

De não dobrar-me, réu de juiz verdugo,

Mas orgulhoso que um poder supremo

Me obrigasse a gemer sob o seu jugo.

 

Mas não. Mal nata, a Alegria já é Morte,

E num ofego a Esperança se afoga;

Brinca de sol e chuva o tempo, e joga

Dados trocados com meu crepe a Sorte.

 

Tais juízes viciados são bem loucos:

Condenam-me a viver, mas pouco, e aos poucos.

 

(1866)

 

Em: “Poemas de Wessex e outros versos”


Referências:

Em Inglês

HARDY, Thomas. Hap. In: __________. The collected poems of Thomas Hardy. Introduction, bibliography and glossary by Michael Irwin. Ware, EN: Wordsworth Editions, 2002. p. 7. (“Wordsworth Poetry Library”)

Em Português

HARDY, Thomas. Acaso. Tradução de Décio Pignatari. In: PIGNATARI, Décio. Poesia, pois é, poesia: 1950-1975 & Poetc.: 1976-1986. São Paulo, SP: Brasiliense, 1986. p. 248.

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