Tema que repetidas vezes retorna na ficção e na poesia de Hardy, a aparente aleatoriedade do acaso, capaz de nos colocar sob a alçada da fortuna ou do infortúnio, deixa transparecer, a seu ver, a ausência de um plano divino para os homens, não se podendo acreditar em um deus benevolente ou malévolo, de quem seríamos como que meras briguelas autômatas.
Vemos, então, a contingência e a imprevisibilidade a braços dados com o tempo, para ensejar genuínos problemas, capazes de acarretar má sorte e tribulações, às quais Hardy se submete em resignada amargura, reconhecendo-as imerecidas, do que se infere que contemplava a vida como uma jornada sob o signo da dor e do sofrimento, sem que se possa conhecer das razões que presidem os fatos.
J.A.R. – H.C.
Hap
If but some vengeful god would call to me
From up the sky, and laugh: “Thou suffering thing,
Know that thy sorrow is my ecstasy,
That thy love’s loss is my hate’s profiting!”
Then would I bear it, clench myself, and die,
Steeled by the sense of ire unmerited;
Half-eased in that a Powerfuller than I
Had willed and meted me the tears I shed.
But not so. How arrives it joy lies slain,
And why unblooms the best hope ever sown?
– Crass Casualty obstructs the sun and rain,
And dicing Time for gladness casts a moan...
These purblind Doomsters had as readily strown
Blisses about my pilgrimage as pain.
(1866)
In: “Wessex poems and other verses”
Acaso
Se ao menos do alto me chamasse um deus
De ódio, e risse: “Ó homem coisa-dor,
Teu sofrimento é o júbilo dos céus,
Teu deve-amor é o meu haver-rancor”,
Eu me conformaria, indo ao extremo
De não dobrar-me, réu de juiz verdugo,
Mas orgulhoso que um poder supremo
Me obrigasse a gemer sob o seu jugo.
Mas não. Mal nata, a Alegria já é Morte,
E num ofego a Esperança se afoga;
Brinca de sol e chuva o tempo, e joga
Dados trocados com meu crepe a Sorte.
Tais juízes viciados são bem loucos:
Condenam-me a viver, mas pouco, e aos poucos.
(1866)
Em: “Poemas de Wessex e outros versos”
Referências:
Em Inglês
HARDY, Thomas. Hap. In: __________. The collected poems of Thomas Hardy. Introduction, bibliography and glossary by Michael Irwin. Ware, EN: Wordsworth Editions, 2002. p. 7. (“Wordsworth Poetry Library”)
Em Português
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