Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Rumi - Apenas Sopro

Mais uma tradução de tradução de Rumi – que pena não conhecer o persa, para apreendê-lo no original! –, como seja, minha versão ao português da tradução de Coleman Barks e parceiros, do persa ao inglês – tudo para se perceber como a figura exponencial do sufismo conseguia, já no século XIII, conceber a unicidade da criação, ou por outra, toda a ampla diversidade do universo concentrada num frágil respiro primordial.

Nota-se que não há outro objetivo para a criação de tantas divisões entre os homens – países, religiões, associações privatistas, partidos ou que tais – que não seja para estabelecer direitos de precedência – até mesmo perante o Eterno, imagine-se! –, incluindo uns e excluindo a maioria, deixando-a à míngua, sem recursos até mesmo para a sobrevivência, quando o universo nos revela exuberância e dimensões infinitas.

J.A.R. – H.C.

Jalal ud-Din Rumi
(1207-1273)

Only Breath

Not Christian or Jew or Muslim, not Hindu,
Buddhist, sufi, or zen. Not any religion

or cultural system. I am not from the East
or the West, not out of the ocean or up

from the ground, not natural or ethereal, not
composed of elements at all. I do not exist,

am not an entity in this world or the next,
did not descend from Adarn and Eve or any

origin story. My place is placeless, a trace
of the traceless. Neither body or soul.

I belong to the beloved, have seen the two
worlds as one and that one call to and know,

first, last, outer, inner, only that
breath breathing human being.

A Essência da Infância
(Konstantin Razumov: pintor russo)

Apenas Sopro

Nem cristão, judeu ou muçulmano; nem hindu,
budista, sufi ou zen. Nenhuma religião

ou sistema cultural; não sou nem do Oriente
nem do Ocidente, nem advim do oceano

nem do solo, tampouco natural ou etéreo,
nem composto por elemento algum. Não existo,

não sou uma entidade neste mundo nem no próximo,
não descendo de Adão ou Eva nem de qualquer

gênesis. Meu lugar é o sem lugar, um vestígio
do sem vestígio. Nem corpo nem alma.

Pertenço ao Amado. Vi os dois mundos
como apenas um e a esse um invoco e o conheço,

o primeiro e o último, o exterior e o interior, esse mero
sopro que é a respiração do ser humano.

Referência:

RUMI, Jalal ud-Din. Only breath. In: __________. The essential Rumi: emptiness and silence  the night air. Translations by Coleman Barks with John Moyne, A. J. Arberry and Reynold Nicholson. Edison, NJ: Castle Books, 1997. p. 32.

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