Que poder de
associação entre a poesia – vista aqui como um pássaro que, por óbvio, alça
voos em qualquer altura – e o poema que a encerra nas palavras! Diz-nos o poeta
moçambicano que não é justo encerrar um pássaro onde ele não possa voar, do que
se deduz que o poema tem que ser capaz de, também, acompanhar os adejos da
poesia.
E quando, numa atmosfera mágica,
diáfana, poema e poesia conjugam-se em ritmo e melodia, para contemplar em
imagens e metáforas outras tantas dimensões da realidade, então temos o supremo
da “ars poetica”, a refletir toda a profundidade anímico-espiritual do ser
humano.
J.A.R. – H.C.
Eduardo White
(1963-2014)
Não faz mal
Voar é uma dádiva da poesia.
Um verso arde na brancura aérea do
papel,
toma balanço,
não resiste.
Solta-se-lhe
o animal alado.
Voa sobre as casas,
sobre as ruas,
sobre os homens que passam,
procura um pássaro
para acasalar.
Sílaba a sílaba
o verso voa.
E se o procurarmos? Que não se
desespere, pois nunca o iremos encontrar. Algum sentimento o terá deixado
pousar, partido com ele. Estará o verso conosco? Provavelmente apenas a parte
que nos coube. Aquietemo-nos. Amainemo-nos esse desejo de o prendermos.
Não é justo um pássaro
onde
ele não pode voar.
Meninas com pássaro e
gaiola
(James Sant: pintor
inglês)
Referência:
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