Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de outubro de 2018

Francesco Petrarca - Soneto XXXII - Quanto mais me avizinho ao dia extremo

Neste soneto, o poeta já não se atém, com intensidade, ao relacionamento amoroso com Laura, a sua musa, senão reflete e passa a pensar na morte, na natureza fugaz da vida e na vaidade dos bens terrenos – tudo num clima do qual o leitor poderá inferir o insuspeitável lastro eclesiástico.

Petrarca percebe a morte não tanto em sua proximidade física, mas sobretudo psicológica: é com o tempo que ele vislumbra a perda de qualquer esperança em nutrir sentimentos pela amada, assim como em manter a capacidade de chorar, de expressar temor ou mesmo de exasperar-se.

J.A.R. – H.C.

Francesco Petrarca
(1304-1374)

Soneto XXXII
Quanto piú m’avicino al giorno extremo

Quanto piú m’avicino al giorno extremo
che l’umana miseria suol far breve,
piú veggio il tempo andar veloce et leve,
e ’l mio di lui sperar fallace et scemo.

I’ dico a’ miei pensier’: Non molto andremo
d’amor parlando omai, ché ’l duro et greve
terreno incarco come frescha neve
si va struggendo; onde noi pace avremo:

perché co·llui cadrà quella speranza
che ne fe’ vaneggiar sí lungamente,
e ’l riso e ’l pianto, et la paura et l’ira;

sí vedrem chiaro poi come sovente
per le cose dubbiose altri s’avanza,
et come spesso indarno si sospira.

In: “Il Canzoniere” (Sec. XIV)

Retrato de Ambroise Vollard
(Pierre Auguste Renoir: pintor francês)

Soneto XXXII
Quanto mais me avizinho ao dia extremo

Quanto mais me avizinho ao dia extremo
Que a humana miséria só faz ser breve
Mais vejo o tempo andar veloz e leve,
E o meu te esperar, falso e pequeno.

E digo ao pensamento: Não muito andemos
De amor falando agora, que o duro e grave
Terreno que calco, como fresca neve
Se vai derretendo; onde nós paz teremos?

Porque com ele decairá aquela esperança
Que me fez delirar assim longamente,
E o riso e o pranto, e o medo e a ira;

Veremos claro, que frequentemente
Por coisa duvidosa outra se avança,
E, em vão, inutilmente se suspira.

Em: “O Cancioneiro” (Séc. XIV)

Referência:

PETRARCA, Francesco. Soneto XXXII: Quanto piú m’avicino al giorno extremo / Soneto XXXII: Quanto mais me avizinho ao dia extremo. Tradução de Sérgio Caponi. In: CAPONI, Sérgio (Organização e tradução). Poemas da paixão subjacente: Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Lui Même. Campinas, SP: Editora Átomo, 2007. Em italiano: p. 74; em português: p. 75.

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