Neste soneto, o poeta já não se atém, com
intensidade, ao relacionamento amoroso com Laura, a sua musa, senão reflete e
passa a pensar na morte, na natureza fugaz da vida e na vaidade dos bens
terrenos – tudo num clima do qual o leitor poderá inferir o insuspeitável
lastro eclesiástico.
Petrarca percebe a morte não tanto em sua
proximidade física, mas sobretudo psicológica: é com o tempo que ele vislumbra
a perda de qualquer esperança em nutrir sentimentos pela amada, assim como em
manter a capacidade de chorar, de expressar temor ou mesmo de exasperar-se.
J.A.R. – H.C.
Francesco Petrarca
(1304-1374)
Soneto XXXII
Quanto piú m’avicino al giorno extremo
Quanto piú m’avicino
al giorno extremo
che l’umana miseria
suol far breve,
piú veggio il tempo
andar veloce et leve,
e ’l mio di lui
sperar fallace et scemo.
I’ dico a’ miei
pensier’: Non molto andremo
d’amor parlando omai,
ché ’l duro et greve
terreno incarco come
frescha neve
si va struggendo;
onde noi pace avremo:
perché co·llui cadrà
quella speranza
che ne fe’ vaneggiar
sí lungamente,
e ’l riso e ’l
pianto, et la paura et l’ira;
sí vedrem chiaro poi
come sovente
per le cose dubbiose
altri s’avanza,
et come spesso
indarno si sospira.
In: “Il Canzoniere” (Sec. XIV)
Retrato de Ambroise Vollard
(Pierre Auguste
Renoir: pintor francês)
Soneto XXXII
Quanto mais me avizinho ao dia extremo
Quanto mais me
avizinho ao dia extremo
Que a humana miséria
só faz ser breve
Mais vejo o tempo
andar veloz e leve,
E o meu te esperar, falso
e pequeno.
E digo ao pensamento:
Não muito andemos
De amor falando
agora, que o duro e grave
Terreno que calco,
como fresca neve
Se vai derretendo;
onde nós paz teremos?
Porque com ele
decairá aquela esperança
Que me fez delirar
assim longamente,
E o riso e o pranto,
e o medo e a ira;
Veremos claro, que
frequentemente
Por coisa duvidosa
outra se avança,
E, em vão,
inutilmente se suspira.
Em: “O Cancioneiro” (Séc. XIV)
Referência:
PETRARCA, Francesco. Sonetto
XXXII: Quanto piú m’avicino al giorno extremo / Soneto XXXII: Quanto mais me
avizinho ao dia extremo. Tradução de Sérgio Caponi. In: CAPONI, Sérgio
(Organização e Tradução). Poemas da
paixão subjacente: Dante Alighieri, Francesco Petrarca e Sérgio Caponi.
Campinas, SP: Editora Átomo, 2007. Em italiano: p. 74; em português: p. 75.
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