Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de outubro de 2018

Onestaldo de Pennafort - Romance do ignorante

Transcrevo o poema a seguir tal e qual se encontra na obra de referência, mais abaixo mencionada. E como imagino que não há problemas no texto levado a prelo pelo poeta (1902-1987), entendo que o termo “escapa”, na primeira estrofe, quiçá signifique “libertada”, “livre” ou coisa que se assemelhe, inserto no terceiro verso para manter a rima com o primeiro.

 

Pela ilustração da capa do livro que se descreve, é bem possível que se tratasse de obra com narrativas de viagens marítimas. Contudo, nem o próprio autor foi capaz de compulsá-la para saber de seu real conteúdo: tornou-se ele “ignorante” de todo o saber humano, uma vez que não pôde alcançá-lo a nado, ante a vastidão do oceano que – poder-se-ia inferir – representa toda a história do homem sobre a terra.

 

J.A.R. – H.C.

 

À beira-mar

(Debbie DeWitt: pintora norte-americana)

 

Romance do Ignorante

 

Et moi, saluant jusqu’à terre, je sors

à reculons, pauvre écolier de Leyde qui ai

bas et chausses percés. (*)

(Aloysius Bertrand)

 

O livro ostentava na capa

uma âncora e três caramujos

fincados numa praia escapa

das canções de falsos marujos.

 

A água verde, ao fundo, acendia

desejos de navegações

e um cheiro acre de maresia

que sabia a tempo e a Camões.

 

Mas o livro estava fechado

sob o figurado oceano.

E eu não pude atingir a nado

o texto do saber humano.

 

Em: “Romanceiro –

Romances d’aquém-mar”

 

Pequenas conchas do mar

e caracóis marinhos entre

rosas, morangos e lagarto

(Balthasar van der Ast: pintor holandês)

 

Nota:

 

(*) “E eu, curvando-me até o chão, saio ao revés, pobre colegial de Leyde que tem as meias e calças furadas”.

 

Referência:

 

PENNAFORT, Onestaldo de. Romance do ignorante. In: __________. Poesias. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954. p. 199. (Coleção “Rex”)

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