Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Allen Ginsberg - Mandala

Parte final do longo poema “Lysergic Acid” (“Ácido Lisérgico”), o excerto abaixo se volta a descrever as prováveis sensações que o poeta experimentou, sobrevindas ao consumo do potente alucinógeno, depois que lhe foram apresentadas mandalas, com poder para multiplicar o “real” a tantos mundos quantos os olhos a mirar a eternidade.

 

As referências fizeram-me lembrar da obra “As Portas da Percepção” – título tomado a um poema de William Blake –, do escritor inglês Aldous Huxley, que, um pouco antes de Ginsberg, passara por sessões experimentais de consumo controlado de mescalina, das quais menciona os “insights” estéticos e sacramentais então alcançados.

 

J.A.R. – H.C.

 

Allen Ginsberg

(1926-1997)

 

Mandala

 

Gods dance on their own bodies

New flowers open forgetting Death

Celestial eyes beyond the heartbreak of illusion

I see the gay Creator

Bands rise up in anthem to the worlds

Flags and banners waving in transcendence

One image in the end remains myriad-eyed in Eternity

This is the Work! This is the Knowledge! This is the

End of man!

 

Palo Alto, June 2, 1959

 

In: “Kaddish and related poems” (1959-1960)

 

Mandala

(Tessa Smits: artista holandesa)

 

Mandala

 

Deuses dançam em seus próprios corpos

Novas flores se abrem esquecendo a Morte

Olhos celestiais acima do desconsolo da ilusão

Eu vejo o alegre Criador

Faixas se elevam em um hino aos mundos

Bandeiras e estandartes tremulando na transcendência

Uma imagem permanece no final com miríades

de olhos na Eternidade

Esta é a Obra! Este é o Saber! Este é o Fim do homem!

 

SF, 2 de junho, 1959

 

Em: “Kaddish e outros poemas” (1959-1960)

 

Nota de Claudio Willer:

 

Ácido Lisérgico – escrito durante uma experiência com LSD promovida pelo departamento de pesquisas médicas da Universidade de Stanford, gravada, na qual eram mostradas gravuras, tocadas músicas, no estilo das sessões em voga nos anos 60. Mais tarde, Ginsberg escreveu um texto indignado, publicado em Poems All Over the Place, exigindo as gravações de volta e afirmando que as sessões eram um expediente da CIA para ficar sabendo da intimidade de pessoas que incomodavam ao sistema. Nesta série de poemas sob efeito de alucinógenos, pronomes pessoais, obrigatórios em inglês e dispensáveis em português, foram mantidos, pois está sendo relatado o confronto entre um “eu” e um “ele”, o indivíduo e um outro, mutante e ameaçador. Imagens do poema correspondem a estímulos visuais apresentados na sessão. (GINSBERG, 2010, p. 183)

 

Referências:

 

Em Inglês

 

GINSBERG, Allen. Mandala. In: __________. Collected poems: 1947-1997. New York, NY: HarperCollins Publishers, 2007. p. 242 (First Harper Perennial Modern Classics Edition Published 2007)

 

Em Português

 

GINSBERG, Allen. Mandala. Tradução de Claudio Willer. In: __________. Uivo, kaddish e outros poemas. Tradução, seleção e notas de Claudio Willer. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010. p. 188.

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