Parte final do longo poema “Lysergic Acid”
(“Ácido Lisérgico”), o excerto abaixo se volta a descrever as prováveis
sensações que o poeta experimentou, sobrevindas ao consumo do potente
alucinógeno, depois que lhe foram apresentadas mandalas, com poder para
multiplicar o “real” a tantos mundos quantos os olhos a mirar a eternidade.
As referências fizeram-me lembrar da obra “As
Portas da Percepção” – título tomado a um poema de William Blake –, do escritor
inglês Aldous Huxley, que, um pouco antes de Ginsberg, passara por sessões
experimentais de consumo controlado de mescalina, das quais menciona os
“insights” estéticos e sacramentais então alcançados.
J.A.R. – H.C.
Allen Ginsberg
(1926-1997)
Mandala
Gods dance on their own bodies
New flowers open forgetting Death
Celestial eyes beyond the heartbreak of illusion
I see the gay Creator
Bands rise up in anthem to the worlds
Flags and banners waving in transcendence
One image in the end remains myriad-eyed in
Eternity
This is the Work! This is the Knowledge! This is
the
End of man!
Palo Alto, June 2, 1959
In: “Kaddish and related poems” (1959-1960)
Mandala
(Tessa Smits: artista
holandesa)
Mandala
Deuses dançam em seus próprios corpos
Novas flores se abrem
esquecendo a Morte
Olhos celestiais acima do desconsolo da ilusão
Eu vejo o alegre Criador
Faixas se elevam em um hino aos mundos
Bandeiras e estandartes tremulando na
transcendência
Uma imagem permanece no final com miríades
de olhos na Eternidade
Esta é a Obra! Este é o Saber! Este é o Fim do
homem!
SF, 2 de junho, 1959
Em: “Kaddish e outros poemas” (1959-1960)
Nota de Claudio Willer:
Ácido Lisérgico – escrito durante uma
experiência com LSD promovida pelo departamento de pesquisas médicas da
Universidade de Stanford, gravada, na qual eram mostradas gravuras, tocadas
músicas, no estilo das sessões em voga nos anos 60. Mais tarde, Ginsberg
escreveu um texto indignado, publicado em Poems All Over the Place,
exigindo as gravações de volta e afirmando que as sessões eram um expediente da
CIA para ficar sabendo da intimidade de pessoas que incomodavam ao sistema.
Nesta série de poemas sob efeito de alucinógenos, pronomes pessoais,
obrigatórios em inglês e dispensáveis em português, foram mantidos, pois está
sendo relatado o confronto entre um “eu” e um “ele”, o indivíduo e um outro,
mutante e ameaçador. Imagens do poema correspondem a estímulos visuais
apresentados na sessão. (GINSBERG, 2010, p. 183)
Referências:
Em Inglês
GINSBERG, Allen. Mandala. In: __________. Collected
poems: 1947-1997. New York, NY: HarperCollins Publishers, 2007. p. 242
(First Harper Perennial Modern Classics Edition Published 2007)
Em Português
GINSBERG, Allen. Mandala. Tradução de Claudio
Willer. In: __________. Uivo, kaddish e outros poemas. Tradução,
seleção e notas de Claudio Willer. Porto Alegre, RS: L&PM, 2010. p. 188.
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