Ao confrontar as figuras do poeta Wallace
Stevens e do lendário King Kong, Ondaatje estrutura ideias primeiramente
antitéticas: enquanto o pensamento está no cérebro do poeta – que luta para
evitar o caos em sua mente criativa –, o discernimento do símio não está em
parte alguma. Mas tenha-se bem claro: a oposição que se nota à primeira vista é
apenas aparente!
Digo isto porque o macaco é apenas uma das
diversas facetas do próprio Stevens: perceba-se que suas mãos são escuras e
espessas. Daí porque nele estão presentes tanto a energia do empresário, quanto
a estética do poeta. E nem se diga que o incontido, a emanar do caos interno
que revolve o poeta, flui por suas próprias mãos até a sombra do celerado
primata...
J.A.R. – H.C.
Michael Ondaatje
(n. 1943)
King Kong meets Wallace
Stevens
Take two photographs –
Wallace Stevens and King
Kong
(Is it significant that
I eat bananas as I write this?)
Stevens is portly,
benign, a white brush cut
striped tie. Businessman
but
for the dark thick
hands, the naked brain,
the thought in him.
Kong is staggering
lost in New York streets
again
a spawn of annoyed cars
at his toes.
The mind is nowhere.
Fingers are plastic,
electric under the skin.
He’s at the call of
Metro-Goldwyn-Mayer.
Meanwhile W. S. in his
suit
is thinking chaos is
thinking fences.
In his head the seeds of
fresh pain,
his exorcising,
the bellow of locked
blood
golden fear and dying.
The hands drain from his
jacket
pose in the murderer’s
shadow.
O velho e os filhotes de
beagle
(Connie Tom: pintora
norte-americana)
King Kong conhece
Wallace Stevens
Tome duas fotografias –
Wallace Stevens e King
Kong
(É significativo que eu
coma bananas enquanto
escrevo isto?)
Stevens é corpulento,
gentil, cabelos brancos
desbastados e gravata
listrada. Um empresário,
em que pesem as mãos
escuras e espessas,
o cérebro franco,
e o pensamento nele a
vagar.
Kong está cambaleando,
novamente perdido pelas
ruas de New York,
com uma sucessão de
carros irritantes entre os
dedos dos pés.
A mente não está em
parte alguma.
Tem os dedos de plástico
eletrizados sob a pele,
E nas chamadas da
Metro-Goldwyn-Mayer
de pronto ele aparece.
Entrementes, W. S. em
terno completo,
está pensando no caos,
em salvaguardas.
Passam-lhe pela cabeça
sementes de dores
emergentes,
sua exorcização,
o urro pela obstrução
sanguínea,
o temor outonal e a
morte.
Referência:
ONDAATJE, Michael. King Kong meets Wallace
Stevens. In: LOCHHEAD, Douglas; SOUSTER, Raymond (Eds.). Made in Canada:
new poems of the seventies. Ottawa (CA): Oberon Press, 1970 (reprinted 1971).
p. 158
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