Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Michael Ondaatje - King Kong conhece Wallace Stevens

Ao confrontar as figuras do poeta Wallace Stevens e do lendário King Kong, Ondaatje estrutura ideias primeiramente antitéticas: enquanto o pensamento está no cérebro do poeta – que luta para evitar o caos em sua mente criativa –, o discernimento do símio não está em parte alguma. Mas tenha-se bem claro: a oposição que se nota à primeira vista é apenas aparente!

 

Digo isto porque o macaco é apenas uma das diversas facetas do próprio Stevens: perceba-se que suas mãos são escuras e espessas. Daí porque nele estão presentes tanto a energia do empresário, quanto a estética do poeta. E nem se diga que o incontido, a emanar do caos interno que revolve o poeta, flui por suas próprias mãos até a sombra do celerado primata...

 

J.A.R. – H.C.

 

Michael Ondaatje

(n. 1943)

 

King Kong meets Wallace Stevens

 

Take two photographs –

Wallace Stevens and King Kong

(Is it significant that I eat bananas as I write this?)

 

Stevens is portly, benign, a white brush cut

striped tie. Businessman but

for the dark thick hands, the naked brain,

the thought in him.

 

Kong is staggering

lost in New York streets again

a spawn of annoyed cars at his toes.

The mind is nowhere.

Fingers are plastic, electric under the skin.

He’s at the call of Metro-Goldwyn-Mayer.

 

Meanwhile W. S. in his suit

is thinking chaos is thinking fences.

In his head the seeds of fresh pain,

his exorcising,

the bellow of locked blood

golden fear and dying.

 

The hands drain from his jacket

pose in the murderer’s shadow.

 

O velho e os filhotes de beagle

(Connie Tom: pintora norte-americana)

 

King Kong conhece Wallace Stevens

 

Tome duas fotografias –

Wallace Stevens e King Kong

(É significativo que eu coma bananas enquanto

escrevo isto?)

 

Stevens é corpulento, gentil, cabelos brancos

desbastados e gravata listrada. Um empresário,

em que pesem as mãos escuras e espessas,

o cérebro franco,

e o pensamento nele a vagar.

 

Kong está cambaleando,

novamente perdido pelas ruas de New York,

com uma sucessão de carros irritantes entre os

dedos dos pés.

A mente não está em parte alguma.

Tem os dedos de plástico eletrizados sob a pele,

E nas chamadas da Metro-Goldwyn-Mayer

de pronto ele aparece.

 

Entrementes, W. S. em terno completo,

está pensando no caos, em salvaguardas.

Passam-lhe pela cabeça sementes de dores

emergentes,

sua exorcização,

o urro pela obstrução sanguínea,

o temor outonal e a morte.

 

Referência:

 

ONDAATJE, Michael. King Kong meets Wallace Stevens. In: LOCHHEAD, Douglas; SOUSTER, Raymond (Eds.). Made in Canada: new poems of the seventies. Ottawa (CA): Oberon Press, 1970 (reprinted 1971). p. 158

Nenhum comentário:

Postar um comentário