Em meio ao outono no hemisfério norte, pressente o poeta a mudança de
clima e de visual na flora à volta, tingida já de um dourado mortiço que lhe é
característico, tudo como corolário da menor quantidade de luz solar a atingir
as folhas, muito embora, por outra banda, ainda remanesçam alguns roseirais
tardios e pássaros imprevidentes a revoar nos céus.
Ainda sem a amada de volta, a tristeza assalta-lhe, motivo por que
postula, em metafórico vislumbre, que as chuvas intensas varram as derradeiras
esperanças preservadas ao peito, enquanto aguarda que a mudança do tempo
climático venha restaurar-lhe o ânimo e a confiança.
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Octobre
Avant que le froid
glace les ruisseaux
Et voile le ciel de
vapeurs moroses,
Écoute chanter les
derniers oiseaux,
Regarde fleurir les
dernières roses.
Octobre permet un
moment encor
Que dans leur éclat
les choses demeurent;
Son couchant de
pourpre et ses arbres d’or
Ont le charme pur des
beautés qui meurent.
Tu sais que cela ne
peut pas durer,
Mon cœur! mais,
malgré la saison plaintive,
Un moment encor tâche
d’espérer
Et saisis du moins
l’heure fugitive.
Bâtis en Espagne un
dernier château,
Oubliant l’hiver, qui
frappe à nos portes
Et vient balayer de
son dur râteau
Les espoirs brisés et
les feuilles mortes.
A glória de outubro
(Doug Kreuger: pintor
norte-americano)
Outubro
Antes que o frio gele
as águas; antes
Que o azul cubram as
névoas hibernais;
Ouve as últimas aves
suspirantes;
Vê o florir dos
últimos rosais.
Por um momento ainda
outubro louro
Todas as cousas com
seu brilho inunda,
À púrpura do ocaso,
as folhas de ouro
Têm um ar de beleza
moribunda.
Sabes que essa
tristeza fria e austera
Não dura muito tempo
– ó coração!
E apesar dela, ó
coração, espera
E susta o curso à
rápida estação.
Constrói o teu
castelo derradeiro,
Esquece o inverno,
que nos bate às portas
E vem varrer com o
rígido pampeiro
Folhas caídas,
esperanças mortas.
(18 de maio de 1881)
Referência:
COPPÉE, François. Octobre / Outubro.
Tradução de Raimundo Correia e Valentim Magalhães. In: __________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP:
Companhia Editora Nacional, 1948.
Em francês: p. 454; em português: p. 379-380.
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