Publico a coluna abaixo, para conclamar
os brasileiros a não votarem “nele”, mas em Haddad (13), e isto mesmo a
despeito de haver votado em Ciro Gomes (12) no primeiro turno, aliás, o único
candidato que se posicionou no sentido de enfrentamento
da banca deste país, a servir apenas como meio para se especular dinheiro –
afinal, em que nação dita civilizada os bancos ganham tanta grana quanto aqui?
Bolsonaro é o pior que uma elite sem
respeito ao país logrou produzir, essa mesma elite que pôs no poder outro
candidato tão tosco quanto – Ratinho Júnior, como governador do Estado do
Paraná – um ente da federação que, convenhamos, se arvora em parâmetro de “civilidade”
neste torrão.
E foi de lá, também, que surgiu a
figura que chocou esse “ovo de serpente” – o juiz Sérgio Moro –, não exatamente
um juiz, senão um político sob a toga. E o pior, O STF, o colegiado que deveria
se pautar pela defesa da Constituição, transgrediu-a e contorceu-a a seu bel
prazer, jogando para bem longe a bandeira da democracia e do republicanismo,
uma vez que deixou de vendar os olhos para bem julgar, tudo se pautando pelo
mais absoluto voluntarismo.
E fica o candidato da ultradireita
brasileira a propagar promessas mentirosas à camada menos lúcida da população,
digo mais humilde, lançando mão da internet para fazer fluir um mar de mentiras
(“fake news”) sobre o outro candidato à presidência, quando a verdade de seu passado “fisiológico” na Câmara de Deputados
(C.D.), por quase três décadas, perdura insofismável como prova contra si,
longe da defesa dos direitos humanos que, agora, para ganhar incautos, afirma
defender.
É um dos muitos canalhas que povoa a
política pátria: Jair Bolsonaro teve o
desplante de, no dia 20 de março de 1998, no plenário da C.D., lançar palavras
infames contra Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), um homem que, a par de seus
afazeres religiosos, foi um dos maiores defensores dos direitos humanos na
América Latina – em especial no período em que o país esteve submerso na
escuridão da ditadura militar –, assim como sua irmã, Zilda Arns, falecida não faz muito em missão humanitária no Haiti, em razão do terremoto ali ocorrido.
Como
não costumo produzir “fake news”, transcrevo, abaixo, o que consta às páginas
identificadas pelos números 07059 e 07060, no Diário da Câmara de Deputados do
supracitado dia (ratifique-se
aqui), o que essa figura tosca e abjeta teve o despautério de manifestar à
audiência daquela Casa:
O SR. JAIR BOLSONARO (PPB
– RJ. Sem revisão do orador)
(...)
Como ainda tenho tempo,
existe outro “mega-picareta” chamado D.
Paulo Evaristo Arns, que teve a cara-de-pau
de publicar carta aos leitores do jornal Folha de S. Paulo de ontem, assinada
por mais 155 desocupados como ele,
criticando minha possível eleição para a Presidência da Comissão de Direitos
Humanos. E apela a Fernando Henrique Cardoso para que tome as providências
legais a fim de que eu não assuma a presidência daquela importante Comissão, que defende os direitos humanos de
vagabundos, D. Paulo Evaristo Arns, que parece que têm as chaves da porta
do céu. Na verdade, as chaves que ele tem
na cintura são da porta do inferno. Então, esse D. Paulo Evaristo Arns deve recolher-se à sua insignificância, ao seu
trabalho demagogo…
O SR. PRESIDENTE (Nelson Trad) – Conclua,
nobre Deputado.
O SR. JAIR BOLSONARO – Sr. Presidente, obrigado
pelo nobre. Fico muito gratificado com esse tratamento de V.Ex.a.
Como ia dizendo, ele deve
deixar que o Congresso Nacional e o Poder Executivo cuidem de suas obrigações,
e ele que continue fazendo sua demagogia, que lhe é peculiar e que, no meu
entender, não leva ninguém à salvação. Muito pelo contrário.
Era o que tinha a dizer.
(Texto escoimado de expressões anti-regimentais, conforme art. 17,
inciso V, alínea b, do Regimento Interno da Câmara de Deputados).
Torna-se necessário “desenhar”,
prezado internauta, quais invectivas ainda teriam sido lançadas por Bolsonaro
contra Arns, para que o redator da ata haja aposto essa observação em itálico,
ao final de seu pronunciamento?!
Por isso tudo – e muito
mais! –, o Brasil não merece uma figura dessa estirpe na Presidência da Nação.
Involuiremos “n” décadas se isso se concretizar! Pense nisso antes de votar,
internauta!
J.A.R. – H.C.
J.A.R. – H.C.
Extrato do Pronunciamento de Bolsonaro
na Câmara de Deputados em 20.3.1998
Coluna de Joaquim Xavier no Conversa Afiada
No programa Contraponto, da
rádio Trianon de São Paulo (programacontrapontotrianon no facebook), o economista Paulo Nogueira Batista Jr. usou metáfora bem ao
gosto de Lula ao comentar o primeiro turno: “Acabou o primeiro tempo. Bolsonaro
ganhou por 2 a 0, mas não 7 a 1. Dá para virar este tipo de placar”.
Economista consagrado,
defenestrado por Temer da vice-presidência do banco dos Brics, Nogueira Batista
pegou na veia. As manchetes fanfarrônicas da grande mídia em decadência
vertiginosa (uma delas, “ONDA DE DIREITA”, parecia a autodescrição da própria
Folha de S.Paulo) tentaram esconder com verborragia aquilo que a realidade
desmentiu. A saber: depois de quase quinze anos de perseguição disfarçada ou
aberta, o Partido dos Trabalhadores e o povo sobreviveram. Só para lembrar
alguns fatos, de forma bem resumida:
– o chamado “mensalão”,
com suas chicanas jurídicas, penas artificialmente infladas, domínios do fato e
Barbosas conhecidos, desterrou uma parte importante da massa crítica da direção
do PT e atacou sua espinha dorsal. Ainda assim Lula não apenas sobreviveu como
se reelegeu;
– desde que Dilma
Rousseff se seguiu a Lula, os ataques passaram a crescer. No Congresso, começou
a ser montada a operação à espera do bote.
– quando Dilma se
reelegeu, a direita e o PSDB, que também é direita braba, vamos combinar,
arregaçaram as mangas. Aécio entrou com uma ação para impugnar a eleição legítima,
Eduardo Cunha organizou a tropa de choque para inviabilizar o governo com as
pautas bomba e deu-se então o impeachment.
– num movimento
conjunto, a chamada “Lava Jato” arregimentou um juiz do Paraná confessadamente
criminoso pelos seus atos fora da lei, para uma caça implacável a lideranças
petistas fazendo uso da subversão sistemática do Direito mais rudimentar. Como
diria o finado politicamente Romero Jucá, “com Supremo e tudo”. Da grande mídia
nem precisa se falar.
– mais ainda faltava
a joia da coroa: Lula. A tentativa de execução aconteceu em 7 de abril, com a
sua prisão baseada num processo rejeitado por 11 de cada dez juristas que têm
compromisso com caráter, rigor acadêmico, convicção democrática ou apenas
honestidade, aqui e fora do Brasil.
– para os inimigos
do povo, não havia como esta equação dar errado: grande capital + elite
apodrecida + judiciário e polícia federal corrompidos + congresso dominado por
vendilhões + mídia sob controle do baronato irrigado por verbas oficiais + um ladrão
no eixo Planalto/Jaburu = Lula preso + PT liquidado + povo derrotado + Brasil à
venda.
O absolutamente
impressionante é que as forças populares tenham resistido a tudo isso. E tenham
mantido um volume de votos capaz de garantir o segundo turno com um candidato
que mal teve três semanas de campanha, mesmo levando em conta erros imensos ao
longo dos governos Lula e Dilma! Quem não enxerga este lado superlativo nas
eleições ganha uma vaga de chefia no Globo e na Globo, Folha, Estadão,
Bandeirantes, Abril (corra antes que feche) e outras siglas moribundas
semelhantes.
A prova do revés da
operação monstruosa urdida há anos pela elite brasileira é o candidato que
sobrou para ela apresentar. Um militar da pior extração, insignificante como
oficial, acusado de querer dinamitar quartéis, idólatra de torturadores, que
enriqueceu ele próprio e sua família à custa do dinheiro público. Do ponto de
vista econômico, defensor de uma reforma trabalhista pré-capitalista e da
liquidação das riquezas e soberania nacionais. Na questão social e
civilizatória, um adversário implacável dos pobres, das mulheres, dos negros,
que prefere ter um filho morto a um filho gay e pretende abolir o conhecimento
nas escolas. Para todos estes setores, Bolsonaro só oferece fogo literal, como
o incêndio da Rocinha, fuzilamento de inimigos e distribuição de armas a
granel.
É este o candidato a reunir
hoje em sua volta políticos e abastados que se diziam “democratas”, acadêmicos
no máximo candidatos a academias de musculação e teóricos que incensam um
militar que envergonha quem exista de sério no próprio exército.
Jair Bolsonaro é o
protótipo mais acabado do nazi-fascismo, um Temer piorado ao qual, aliás,
sempre rendeu apoio em momentos decisivos. Mas é preciso traduzir isto para a
realidade do dia a dia do povo brasileiro. O Brasil não viveu os horrores do
terror de Hitler e Mussolini e das grandes guerras, como aconteceu com a Europa
e Estados Unidos e outras áreas do planeta.
Nestas regiões,
dificilmente há uma família em que um parente, muitos ainda vivos, um amigo, um
conhecido que não tenha sentido na pele e acompanhado a ascensão dos bolsonaros
europeus. É um fio de continuidade que atravessa gerações. No Brasil, o putsch
da cervejaria de 1922, o incêndio do Reichstag em 1933, a morte de milhões de
trabalhadores, o holocausto de judeus, a destruição de cidades inteiras é na
maioria das vezes assunto de leituras ou sessões de cinema e TV.
Mesmo os dois períodos de
ditadura no Brasil, com Getúlio Vargas de 37 a 45 e os militares de 64 a 85,
não fizeram estrago da mesma proporção. Não porque os artífices do Estado Novo
e gente como Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo fossem
menos brutais e asquerosos. Simplesmente porque a resistência do povo não
conseguiu ser maior. Quando tiveram que torturar, matar, censurar, perseguir,
aqueles fizeram tudo igualzinho a qualquer ditador.
Isto explica porque a mídia
internacional se mostre apavorada com a complacência com que a imprensa
brasileira trata Jair Bolsonaro. Enquanto lá fora Bolsonaro é chamado pelo
nome, um nazi-fascista sem disfarces, aqui os teclados sob encomenda patronal
chegam a compará-lo apenas a um chefe de família um pouco mais autoritário,
defensor de valores tradicionais. Essas mesmas penas de aluguel domésticas
chegam a dizer que o Brasil hoje vive entre dois extremos simétricos.
Como assim? Onde Haddad
prega extermínio de ricos, perseguição a minorias, fuzilamento de adversários,
trabalhadores sem direitos, perseguição a gays, primeiro atirar para matar e perguntar
à vítima depois? O embate aqui não entre é extrema-direita e extrema esquerda –
numa agremiação clássica de esquerda radical, Haddad não seria ninguém na fila
do pão. Nem Lula. O embate é entre democracia e fascismo. Por isso que tais
colunistas não valem nada. São lixo puro, candidatos a censores e supervisores
de torturas.
Se vale a sugestão, cabe às
lideranças das forças populares traduzirem isto para o Brasil. Não recorrendo
apenas à memória secular, mas fazendo a associação com os fatos que estão à
vista de todos HOJE. A Última TV Afiada, magistral, dá uma pequena mostra, na
prática, do que seria um governo Bolsonaro. Exibe como a besta já saiu da
jaula. Espancamentos, humilhações, mentiras, queima de livros, nenhum programa
de governo com preocupação social, nada exceto a implantação de uma ditadura
com a venda em massa do país e do seu povo ao grande capital. Tudo obra dos partidários
do mesmo Bolsonaro que em seus primeiros mandatos propunha simplesmente fechar
o Congresso e ponto.
Veja-se ainda o festival de
besteiras econômicas destilado pela “equipe” de Bolsonaro, na verdade uma
reunião de generais ignorantes e selvagens, executivos arrivistas, políticos
desclassificados e Paulo Guedes, atualmente acusado de roubar dinheiro em
transações com fundos de pensão. Uma turma que, um dia,
por exemplo, prega o fim do 13º salário e no outro propõe ampliar o benefício
até para quem ganha Bolsa Família. Tente encontrar no “programa” destes
bandoleiros as palavras desemprego, volta da miséria para milhões, abandono das
universidades e escolas, inadimplência recorde e tudo o mais que destrói o
cotidiano e anula o futuro da maioria do país. Perda de tempo. Bolsonaro e seus
papagaios não se importam com isso. Eles pensam que o povo é cretino, mas a
eleição mostrou que não é bem assim. Não à toa Bolsonaro foge dos debates como
o diabo rejeita a cruz. Para dizer a verdade, nunca foi tão simples e barato
ser “marqueteiro” do PT.
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