Estas sextinas pertencem a um poeta, artista e compositor considerado
como um dos líderes da cultura não oficial russa, enquanto um dos fundadores do
grupo “Lianozovo” – a incluir, dentre outros, o pintor Oscar Rabin e o poeta
Igor Holin –, devotado a abrir caminho alternativo na arte, motivo pelo qual
transitou na “periferia” das principais tendências artísticas do século XX.
Pode-se deduzir que o teor de tais sextinas reflitam os impasses
sofridos pelos artistas russos sob o domínio da política soviética, eis que
apresentam temática dedicada aos trabalhadores e camponeses, em sua lida de
trabalho e diversão, enquanto, de forma subterrânea, o grupo “Lianozovo”
entregava-se aos pendores de vanguarda, no domínio da criatividade metapoética,
dos coloquialismos e dos ditames surrealistas, tendências que, mais tarde,
desenvolveram-se com mais liberdade, já nas décadas finais do século.
J.A.R. – H.C.
Lev Kropivnítzki
(1893-1979)
Секстинах
Молчи, чтоб не нажить беды,
Таись и бережно скрывайся;
Не рыпайся туды-сюды,
Не ерепенься и не лайся.
Верши по малости труды
И помаленьку майся, майся.
Уж раз родился – стало, майся:
Какой еще искать беды? –
Известно, жизнь – труды, труды –
Трудись, но бережно скрывайся,
Не поддавайся, но не лайся, –
Гляди туды, смотри сюды.
Хотя глядишь туды-сюды,
Да проку что? – сказали: майся.
Все ерунда, так вот, не лайся!
Прожить бы только без беды,
А чуть беда – скорей скрывайся.
Но памятуй: нужны труды.
Труды они и есть труды:
Пошел туды, пришел сюды,
Вот – от работы не скрывайся.
Кормиться хочешь – стало, майся,
Поменьше было бы беды,
Потише было бы, – не лайся.
Есть лают зло, а ты не лайся,
И знай себе свои труды:
Труды туды, труды сюды;
Прожить возможно ль без беды?
А посему трудись и майся,
И помаленечку скрывайся.
Все сгинет – ну и ты скрывайся,
И на судьбу свою не лайся:
Ты маялся? – так вот, не майся,
Заканчивай свои труды,
В могилу меть – туды, туды,
Туды, где больше нет беды.
(1948)
A Dança Camponesa
(Pieter Bruegel, o
Jovem: pintor flamengo)
Sextina
Cala, e não haverá
desgraça.
Oculta-te e fica de
lado:
Não te agites pra cá,
pra lá,
Não te enerves, bico
calado.
É isso aí: cai no
trabalho
E, pouco a pouco,
dança, dança.
Quem nasceu não tem
jeito, dança:
Para que buscar mais
desgraça?
A vida é assim mesmo:
trabalho.
Trabalhar e passar de
lado.
Aguentar, mas sempre
calado,
Olhar pra cá, olhar
pra lá.
Mesmo que olhes pra
cá, pra lá,
De que adianta? –
disseram: dança,
Tudo é inútil. Passa,
calado,
Para não cair em
desgraça.
Se há desgraça, fica
de lado,
Mas lembra bem: tudo é
trabalho.
Trabalho é sempre
trabalho:
Zanza pra cá, zanza
pra lá,
Ou trabalha ou fica
de lado.
Comer não é bom?
Então, dança.
Pra viver com menos
desgraça
E mais paz, aguenta
calado.
Que outros chiem,
ouve calado
E conhece bem teu
trabalho:
Talha pra cá, malha
pra lá;
Quem pode viver sem
desgraça?
É esse o jeito:
trabalha e dança...
E pouco a pouco sai
de lado.
Tudo passa – fica de
lado,
Aceita o teu quinhão,
calado.
Pra que dançar?
Esquece a dança
E trabalha no teu
trabalho,
Talha a mortalha e
vai pra lá,
Pra lá, onde não há
desgraça.
(1948)
Referências:
Em Russo
Em Português
KROPIVNÍTZKI, Lev. Sextina. Tradução de
Augusto de Campos e Boris Schnaiderman. In: CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo
de; SCHNAIDERMAN, Boris. Poesia moderna
russa: nova antologia. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos, com a
revisão ou colaboração de Boris Schnaiderman. 3. ed. São Paulo, SP: Brasiliense,
1985. p. 290-291.
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