Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Lev Kropivnítzki - Sextina

Estas sextinas pertencem a um poeta, artista e compositor considerado como um dos líderes da cultura não oficial russa, enquanto um dos fundadores do grupo “Lianozovo” – a incluir, dentre outros, o pintor Oscar Rabin e o poeta Igor Holin –, devotado a abrir caminho alternativo na arte, motivo pelo qual transitou na “periferia” das principais tendências artísticas do século XX.

Pode-se deduzir que o teor de tais sextinas reflitam os impasses sofridos pelos artistas russos sob o domínio da política soviética, eis que apresentam temática dedicada aos trabalhadores e camponeses, em sua lida de trabalho e diversão, enquanto, de forma subterrânea, o grupo “Lianozovo” entregava-se aos pendores de vanguarda, no domínio da criatividade metapoética, dos coloquialismos e dos ditames surrealistas, tendências que, mais tarde, desenvolveram-se com mais liberdade, já nas décadas finais do século.

J.A.R. – H.C.

Lev Kropivnítzki
(1893-1979)

Секстинах

Молчи, чтоб не нажить беды,
Таись и бережно скрывайся;
Не рыпайся туды-сюды,
Не ерепенься и не лайся.
Верши по малости труды
И помаленьку майся, майся.

Уж раз родилсястало, майся:
Какой еще искать беды? –
Известно, жизньтруды, труды
Трудись, но бережно скрывайся,
Не поддавайся, но не лайся, –
Гляди туды, смотри сюды.

Хотя глядишь туды-сюды,
Да проку что? – сказали: майся.
Все ерунда, так вот, не лайся!
Прожить бы только без беды,
А чуть бедаскорей скрывайся.
Но памятуй: нужны труды.

Труды они и есть труды:
Пошел туды, пришел сюды,
Вотот работы не скрывайся.
Кормиться хочешьстало, майся,
Поменьше было бы беды,
Потише было бы, – не лайся.

Есть лают зло, а ты не лайся,
И знай себе свои труды:
Труды туды, труды сюды;
Прожить возможно ль без беды?
А посему трудись и майся,
И помаленечку скрывайся.

Все сгинетну и ты скрывайся,
И на судьбу свою не лайся:
Ты маялся? – так вот, не майся,
Заканчивай свои труды,
В могилу метьтуды, туды,
Туды, где больше нет беды.

(1948)

A Dança Camponesa
(Pieter Bruegel, o Jovem: pintor flamengo)

Sextina

Cala, e não haverá desgraça.
Oculta-te e fica de lado:
Não te agites pra cá, pra lá,
Não te enerves, bico calado.
É isso aí: cai no trabalho
E, pouco a pouco, dança, dança.

Quem nasceu não tem jeito, dança:
Para que buscar mais desgraça?
A vida é assim mesmo: trabalho.
Trabalhar e passar de lado.
Aguentar, mas sempre calado,
Olhar pra cá, olhar pra lá.

Mesmo que olhes pra cá, pra lá,
De que adianta? – disseram: dança,
Tudo é inútil. Passa, calado,
Para não cair em desgraça.
Se há desgraça, fica de lado,
Mas lembra bem: tudo é trabalho.

Trabalho é sempre trabalho:
Zanza pra cá, zanza pra lá,
Ou trabalha ou fica de lado.
Comer não é bom? Então, dança.
Pra viver com menos desgraça
E mais paz, aguenta calado.

Que outros chiem, ouve calado
E conhece bem teu trabalho:
Talha pra cá, malha pra lá;
Quem pode viver sem desgraça?
É esse o jeito: trabalha e dança...
E pouco a pouco sai de lado.

Tudo passa – fica de lado,
Aceita o teu quinhão, calado.
Pra que dançar? Esquece a dança
E trabalha no teu trabalho,
Talha a mortalha e vai pra lá,
Pra lá, onde não há desgraça.

(1948)

Referências:

Em Russo

КРОПИВНИ́ЦКИЙ, Евге́ний Леони́дович. Секстинах. Disponível neste endereço. Acesso em: 28 out. 2018.

Em Português

KROPIVNÍTZKI, Lev. Sextina. Tradução de Augusto de Campos e Boris Schnaiderman. In: CAMPOS, Augusto de; CAMPOS, Haroldo de; SCHNAIDERMAN, Boris. Poesia moderna russa: nova antologia. Traduções de Augusto e Haroldo de Campos, com a revisão ou colaboração de Boris Schnaiderman. 3. ed. São Paulo, SP: Brasiliense, 1985. p. 290-291.

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