Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 6 de outubro de 2018

Charles Simic - O Império dos Sonhos

O poeta revolve o seu livro de sonhos e depara, na primeira página, com um estado onírico que mais se parece à realidade de um torrão onde a liberdade foi cerceada: menciona-se um país ocupado, onde ocorre toque de recolher e tudo parece escuro e soturno, deixando transparecer o humor triste e sombrio do autor.

Nesse império de sonhos, o portal que lhe dá acesso faz o leitor imergir no que restou de impactante na psique do ente lírico, talvez lembranças do seu próprio país de origem – Simic nasceu em Belgrado, hoje capital da Sérvia, mas àquela altura da Iugoslávia –, num lugar onde não deveria estar, à procura, talvez, de coisas que lhe fossem próximas, embora proibidas pelo regime, do qual, por sua vez, temia em fazer parte, receando em colocar-se a máscara desse domínio paradoxal.

Tudo são interpretações sobre o que o poema pode significar, haja vista que há abertura suficiente para mais de uma leitura dos versos, em que se sobrepõem diversas camadas de representações: lojas esvaziadas e fachadas escuras, um cão negro que atende a apitos, solidão e pouca proteção para o corpo e por aí vai. Como você o interpretaria, internauta?

J.A.R. – H.C

 


Charles Simic
(n. 1938)

 

Empire of Dreams

 

On the first page of my dreambook

It’s always evening

In an occupied country.

Hour before the curfew.

A small provincial city.

The houses all dark.

The storefronts gutted.

 

I am on a street corner

Where I shouldn’t be.

Alone and coatless

I have gone out to look

For a black dog who answers to my whistle.

I have a kind of Halloween mask

Which I am afraid to put on.

 

lustração de autoria desconhecida

Império dos Sonhos

 

Na primeira página do meu livro de sonhos

É sempre noite

Num país ocupado.

Uma hora antes do toque de recolher.

Uma pequena cidade provinciana.

As casas todas escuras.

As fachadas das lojas esventradas.

 

Estou numa esquina

Onde não deveria estar.

Sozinho e sem sobretudo

Havia saído à procura

De um cão negro que responde ao meu apito.

Possuo uma espécie de máscara Halloween

Que tenho receio em colocar-me.


Referência:

SIMIC, Charles. Empire of dreams. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 436-437.

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