O autor venezuelano revela, em seu discurso, todo o amor que tem pelos
livros, eles que são capazes de abrir mundos ao mundo, tirando-nos da letargia
em que somos lançados pela rotina do quotidiano, jogando-nos, então, no cadinho
da beleza e do entusiasmo pela grande literatura.
Mas havemos de assinalar o contraponto que o escritor evoca ao final
deste rápido panegírico: os livros também recolhem a história de nossa breve
passagem sobre a terra, e, para sermos verazes, nem sempre a ação humana é
digna de elogios. Ou o que seriam as guerras, a fome, a violência política ou
que tais?!
J.A.R. – H.C.
Gabriel Saldivia
(n. 1956)
Los libros
(En: “Desenfreno”)
Qué triste sería
pasar por los días y noches del mundo, sin dejar siquiera una palabra, que diga
lo que somos, lo que una vez fuimos. Una palabra al menos, para ser leida por
los hijos de nuestros sueños, dudas y aciertos que configuran nuestro paso
fugaz por los laberínticos pasillos de la vida. Sería muy triste pasar, sin ni
siquiera intentar abrir la puerta de esa casa mágica hecha de palabras, que nos
invitan a dialogar com nuestros silencios y misterios. Esa casa que nos espera
siempre desde las más apartadas estanterias. Porque eso son los libros, casas
de voces para ser leídas y escuchadas. Lugar que propicia el encuentro con
otras vidas, otros espacios, otras historias y con personajes rebelándose en el
misterio de la palabra que los nombra y los eterniza. Cada libro contiene, sin
lugar a dudas, es una lucha constante por vencer la brevedad del tiempo que nos
signa. Cada libro hace del instante vivido, instante que no vuelve, pero que se
hace imperecedero en la palabra impresa,que hace posible el milagro de la
trascendencia. Somos personajes de un libro que tal vez no llegue a escribirse
nunca. O personajes del libro que no leeremos, ese libro que se extravia entre ocultos
anaqueles y entre las miles de páginas que conservan en sus tintas la voz de
una buena parte de historia de la humanidad. Entonces, dónde buscamos, si somos
personajes en constante configuración y transformación. Personajes inmersos en
aquello que trascurre con asombrosa rapidez, que apenas alcanzamos a leer em las
páginas de nuestras vidas, sólo fragmentos y palabras rotas, que se van quedando
calladas en alguna calle de nuestra pequeña historia, pequeña, pero particular, unica e irrepetible en la sagrada vida de todo ser humano, que habita
este extraordinario y muchas veces maltratado planeta. A veces, leer un libro
nos hace cruzar puentes hacia paisajes sólo posibles en el reino de la fantasia
y el sueño. Paisajes que habitamos y recorremos en las naves de la imaginación.
Paisajes que nos hacen sentir emociones, que en nuestra realidad circundante
nos resultarían imposibles de alcanzar. Y si nos adentramos em otras lecturas
podemos ir a lugares, pueblos y ciudades en alas mágicas de cuentos y novelas que
nos invitan a realizar viajes inesperados. Leer un libro nos convierte
inevitablemente en el otro, nos hace caminar por los predios de otra vida, por
lo general, distante de la rutina que nos agobia. Pero, si leemos otras páginas,
nos encontramos también con historias crudas y lamentablemente reales sobre
guerras, invasiones, hambrunas y otras desgracias padecidas por la humanidad.
Natureza-morta com obras-primas
(Claude R. Hirst:
pintora norte-americana)
Os livros
(Em: “Desenfreio”)
Quão triste seria
passar pelos dias e pelas noites do mundo, sem deixar sequer uma palavra, que
diga o que somos, o que uma vez fomos. Uma palavra ao menos, para ser lida
pelos filhos de nossos sonhos, dúvidas e acertos que configuram nosso caminhar
pelos labirínticos corredores da vida. Seria muito triste passar, sem nem
sequer tentar abrir a porta dessa casa mágica feita de palavras, que nos
convidam a dialogar com nossos silêncios e mistérios. Essa casa que nos espera
sempre desde as mais distanciadas estantes. Porque os livros são isso, casas de
vozes para serem lidas e escutadas. Lugar que propicia o encontro com outras
vidas, outros espaços, outras histórias e com personagens rebelando-se no
mistério da palavra que os nomeia e os eterniza. Cada livro contém, sem lugar a
dúvidas, uma luta constante para vencer a brevidade do tempo que nos delimita.
Cada livro faz do instante vivido, instante que não retorna, mas que se faz
imperecível na palavra impressa, a tornar possível o milagre da transcendência.
Somos personagens de um livro que, talvez, jamais venha a ser escrito. Ou
personagens do livro que não leremos, esse livro que se extravia entre ocultas
prateleiras e entre as milhares de páginas que conservam em suas tintas a voz
de uma boa parte da história da humanidade. Então, onde haveremos de procurar,
se somos personagens em constante configuração e transformação. Personagens
imersos naquilo que transcorre com assombrosa rapidez, que mal conseguimos ler
nas páginas de nossas vidas, como simples fragmentos e palavras desgastadas,
que pouco a pouco silenciam em alguma rua de nossa breve história, breve, mas
particular, única e irrepetível na sagrada vida de todo ser humano, que habita
este extraordinário e muitas vezes maltratado planeta. Às vezes, ler um livro
nos faz cruzar pontes até paisagens somente possíveis no reino da fantasia e do
sonho. Paisagens que habitamos e percorremos nas naves da imaginação. Paisagens
que nos fazem sentir emoções, que em nossa realidade circundante nos
resultariam impossíveis de alcançar. E se adentramos em outras leituras podemos
ir a lugares, povos e cidades nas asas mágicas dos contos e romances que nos
convidam a realizar inesperadas viagens. Ler um livro nos converte
inevitavelmente no outro, nos faz caminhar pelos terrenos de outra vida, modo
geral, a certa distância da rotina que nos oprime. Nada obstante, se lemos
outras páginas, nos encontramos também com histórias cruas e lamentavelmente reais
sobre guerras, invasões, fomes e outros infortúnios de que a humanidade padece.
Referência:
SALDIVIA, Gabriel. Los libros. In:
__________. Antología poética.
Caracas, VE: Fundarte, 2010. p. 149-150. (“Cuadernos de Difusión – Mención
Poesía”; nº 290)
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