Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

E. J. Pratt - Natureza-Morta

Aos poetas dedicados a entoar loas a naturezas-mortas, o vate canadense sugere paragens orientais, pela graça da palavra, no Japão ou na China, onde há belas urnas, flores salpicadas de vermelho nos jardins e erros bastantes para esgotar as possibilidades de se atingir um alvo com sucesso.

Ao final, ainda há chance de se ouvir um canto entoado em homenagem aos frequentes mortos que são vitimados pelas enchentes do Rio Amarelo. E claro, quando nos dedicamos a falar da China, as cifras sempre são expressivas: o poeta refere-se a uma que levou cem mil almas, mas a de 1931, por exemplo, provocou mais de um milhão de mortes!

J.A.R. – H.C.

E. J. Pratt
(1882-1964)

Still Life

To the poets who have fled
To pools where little breezes dusk and shiver,
Who need still life to deliver
Their souls of their songs –
There are roses blanctied of red
In the Orient gardens, Japanese urns to limn
With delicate words, and enough wrongs
To exhaust an Olympian quiver,
And time, be it said,
For a casual hymn
To be sung for the hundred thousand dead
In the mud of the Yellow River.

Paisagem Japonesa
(Laura Climent: pintora espanhola)

Natureza-Morta

Aos poetas que fugiram
Rumo a lagoas onde crepitam e ondulam parcas brisas,
Que necessitam de natureza-morta para liberar
Suas almas das canções que compõem –
Há rosas salpicadas de vermelho
Nos jardins orientais, urnas japonesas a esmiuçar
Com palavras delicadas, erros suficientes
Para exaurir as setas de uma aljava olímpica,
E, digamos, tempo
Para que um eventual hino
Seja entoado aos cem mil mortos
Pelo lodo das enchentes do Rio Amarelo.

Referência:

PRATT, E. J. Still life. In: GUSTAFSON, Ralph (Comp.). Anthology of canadian poetry: english. Toronto, CA: Penguin Books, 1942. p. 60.

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