Não estou bem certo se Varela, ao aludir às faculdades da língua, esteja
a ela associando poderes de elocução positivos ou negativos. Com efeito, há
pessoas a quem o letrista daquela música de diversão muito bem conhece, por
suas intenções maledicentes: “No dia em que você morrer / vai morrer pulando e
fazendo careta / seu corpo vai num caminhão / mas a sua língua vai numa
carreta”.
Contudo, quando empregada não para desmantelar, mas para fortalecer o
espírito e a vontade dos pares, convergindo o discurso para o bem e para a
agregação de valores em proveito da sociedade – e tal, parece-me, ser a
intenção do poeta –, então estamos convictos de que a língua parecer-se-á com a
poesia sob a ótica do espanhol Gabriel Celaya: uma arma carregada de futuro!
J.A.R. – H.C.
Fagundes Varela
(1841-1875)
Armas
– Qual a mais forte das armas,
A mais firme, a mais certeira?
A lança, a espada, a clavina,
Ou a funda aventureira?
A pistola? O bacamarte?
A espingarda, ou a flecha?
O canhão que em praça forte
Faz em dez minutos brecha?
– Qual a mais firme das armas? –
O terçado, a fisga, o chuço,
O dardo, a maça, o virote?
A faca, o florete, o laço,
O punhal, ou o chifarote?...
A mais tremenda das armas,
Pior que a durindana,
Atendei, meus bons amigos:
Se apelida: – a língua humana! –
A Fofoca
(Pol
Ledent: pintor belga)
Referência:
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