Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Fagundes Varela - Armas ‎

Não estou bem certo se Varela, ao aludir às faculdades da língua, esteja a ela associando poderes de elocução positivos ou negativos. Com efeito, há pessoas a quem o letrista daquela música de diversão muito bem conhece, por suas intenções maledicentes: “No dia em que você morrer / vai morrer pulando e fazendo careta / seu corpo vai num caminhão / mas a sua língua vai numa carreta”.

Contudo, quando empregada não para desmantelar, mas para fortalecer o espírito e a vontade dos pares, convergindo o discurso para o bem e para a agregação de valores em proveito da sociedade – e tal, parece-me, ser a intenção do poeta –, então estamos convictos de que a língua parecer-se-á com a poesia sob a ótica do espanhol Gabriel Celaya: uma arma carregada de futuro!

J.A.R. – H.C.

Fagundes Varela
(1841-1875)

Armas

– Qual a mais forte das armas,
A mais firme, a mais certeira?
A lança, a espada, a clavina,
Ou a funda aventureira?
A pistola? O bacamarte?
A espingarda, ou a flecha?
O canhão que em praça forte
Faz em dez minutos brecha?
– Qual a mais firme das armas? –
O terçado, a fisga, o chuço,
O dardo, a maça, o virote?
A faca, o florete, o laço,
O punhal, ou o chifarote?...
A mais tremenda das armas,
Pior que a durindana,
Atendei, meus bons amigos:
Se apelida: – a língua humana! –

A Fofoca
(Pol Ledent: pintor belga)

Referência:

VARELA, Fagundes. Armas. In: BARBOSA, Frederico (Organizador). Cinco séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 221.

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