Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Theodore Roethke - Dolor

O poeta explora o ciclo de vida que se passa num meio burocrático institucionalizado, repetitivo e infeliz, revelando-o sob o manto fino da poeira que a tudo recobre, num escritório com potencial para levar o ente lírico às raias da claustrofobia, haja vista o limitado espaço para expressar a sua individualidade.

O sofrimento ou a angústia maior é essa iteração à exaustão de gestos mecanizados, acarretando um tédio arrasador que põe a manifestar-se sobre coisas inesperadas, a saber, os rostos das pessoas com quem se entra em contato – os quais passam também a se repetir, cinzentos, vulgares.

J.A.R. – H.C.

Theodore Roethke
(1908-1963)

Dolor

I have known the inexorable sadness of pencils,
Neat in their boxes, dolor of pad and paper-weight,
All the misery of manilla folders and mucilage,
Desolation in immaculate public places,
Lonely reception room, lavatory, switchboard,
The unalterable pathos of basin and pitcher,
Ritual of multigraph, paper-clip, comma,
Endless duplication of lives and objects.
And I have seen dust from the walls of institutions,
Finer than flour, alive, more dangerous than silica,
Sift, almost invisible, through long afternoons of tedium,
Dropping a fine film on nails and delicate eyebrows,
Glazing the pale hair, the duplicate grey standard faces.

Natureza-morta com livros,
espelhos e lentes III (Noite)
(Ephraim Rubenstein: pintor norte-americano)

Dolor

Conheci a tristeza inexorável dos lápis,
Arrumados em suas caixas, a dor do bloco de notas e do
peso de papel,
Toda a miséria das pastas de manilha e da goma-arábica,
A desolação nos imaculados lugares públicos,
A sala de recepção pouco frequentada, o lavabo, a central
telefônica,
O páthos inalterável da bacia e do jarro,
O ritual do multígrafo, o clipe para papéis, a vírgula,
A duplicação interminável de vidas e de objetos.
Vi também a poeira nas paredes das instituições,
Mais fina que farinha, mais penetrante e perigosa que sílica,
Peneirada, quase invisível, através de longas tardes de tédio,
Recobrindo com uma fina película as unhas e sobrancelhas
delicadas,
Reluzindo os cabelos claros, os rostos vulgares, cinzentos,
duplicados.

Referência:

ROETHKE, Theodore. Dolor. In: __________. Collected poems. London (EN); Boston (MA): Faber and Faber, 1985. p. 44.

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