Corpo e alma se desavêm em algum lugar do
binômio “espaço x tempo”: e cada qual se dirige ao outro para evocar o anagrama
que se lhe associa, conformando a natureza imutável de cada metade daquilo que,
por suposto, integraria o ser humano.
A alma dirige-se ao corpo lembrando-lhe que, por
simples inversão de letras, seu nome passa a denominar o “porco”, que adora
chafurdar na lama. Mas ora, o que haveria de lhe retrucar o corpo? Claro: um
anagrama possível da palavra alma é “lama”, logo o “habitat” preferencial do
próprio porco! E assim, vivem os dois nessa imanente realidade do humano!
J.A.R. – H.C.
Alberto de Oliveira
(1857-1937)
A Alma e o Corpo
“Em muitas línguas as
mesmas letras e
sílabas tem o corpo, do
que o porco”
Bernardes, Os
últimos fins do homem.
...Alma, a qual
se decompõe em lama, se
lhe trocais as letras.
C. C. Branco.
A Alma
O meu desprezo profundo
Dou-te. És, ó corpo,
anagrama
Do animal pesado e
imundo
Que se rebolca na lama.
O Corpo
Fátua, que divina chama
Supões possuir neste
mundo,
Vê que perfeito anagrama
Formam também alma e lama.
Em: “Alma e Céu”
Corpo - Espírito - Alma
(An Yuu: artista
italiana)
Referência:
OLIVEIRA, Alberto de. A alma e o corpo. In:
__________. Poesias. Quarta série: 1912-1925. 2. ed. Rio de
Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1928. p. 80.
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