Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Juan José Saer - Luta de Classes

Em nenhum momento Saer menciona a palavra “socialismo” em seu poema. Seja como for, não há como deixar de associar a mensagem última nele encerrada a tal forma de filosofia política. Por igual, não fala em “revolução”, tampouco em “proletariado” ou outra terminologia que se poderia extrair ao marxismo-leninismo...

Mas paira, na beleza das imagens evocadas pelo escritor argentino, força similar a que Drummond impõe aos versos derradeiros de o “Nosso Tempo”, embora, talvez, com menos ressonância poética: “O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo, como uma pedreira, uma floresta, um verme.” (ANDRADE, 2011, p. 45)

J.A.R. – H.C.


Juan José Saer
(1937-2005)

Lucha de Clases

La voz vendría a quedar, de esa manera, en suspenso. Y un trueno,
en su lugar, se dejaría oír, en la casa de la historia,
poniendo, como quien dice, un temblor,
hasta en los rincones más escondidos o más frágiles. Que la voz,
más bien, ininterrumpida, acompañe la explosión, la haga más
que ruido, 
dotándola de una dimensión de modestia, de error o soledad,
de modo tal que la finitud complete las estrellas codiciadas.
Y porque, también, pasado el estruendo, en el silencio que,
por obra de alguna revisión pudiese, gélido, imperar,
esa voz finita y sin fin siga sola cintilando hacia el cielo,
de modo tal que ayude, en la noche eventual,
a romper, o a desplegarse más bien,
firme, y hasta una nueva noche, el amanecer

Um Tranquilo Anoitecer
(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)

Luta de Classes

A voz viria para ficar, dessa maneira, em suspenso. E um trovão,
em seu lugar, se deixaria ouvir, na casa da história,
pondo, como quem diz, um tremor,
até nos recantos mais escondidos ou mais frágeis. Que a voz,
de preferência, sem interrupções, acompanhe a explosão, faça-a mais
que ruído,
dotando-a de uma dimensão de modéstia, de erro ou solidão,
de tal modo que a finitude complete as estrelas cobiçadas.
E para que, também, passado o estrondo, no silêncio que,
gélido, talvez possa imperar por obra de alguma revisão,
essa voz finita e sem fim siga sozinha cintilando até o céu,
de tal modo que ajude, na noite eventual,
a romper, ou, antes, a espargir o amanhecer,
firmemente, até uma nova noite.

Referências:

ANDRADE, Carlos Drummond de.
A rosa do povo. Prefácio de Affonso Romano de Sant’Anna. 44. ed. Rio de Janeiro, RJ: Record, 2011.

SAER, Juan José. Lucha de clases. In: __________.
El arte de narrar: poemas (1960-1987). Madrid, ES: Visor Libros, DL 2008. p. 26. (Colección ‘Visor de Poesía’; v. DCCII [702]).

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