Em nenhum momento Saer menciona a
palavra “socialismo” em seu poema. Seja como for, não há como deixar de
associar a mensagem última nele encerrada a tal forma de filosofia política.
Por igual, não fala em “revolução”, tampouco em “proletariado” ou outra
terminologia que se poderia extrair ao marxismo-leninismo...
Mas paira, na beleza das imagens
evocadas pelo escritor argentino, força similar a que Drummond impõe aos versos
derradeiros de o “Nosso Tempo”, embora, talvez, com menos ressonância poética:
“O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com
suas palavras, intuições, símbolos e outras armas promete ajudar a destruí-lo,
como uma pedreira, uma floresta, um verme.” (ANDRADE, 2011, p. 45)
J.A.R. – H.C.
Juan José Saer
(1937-2005)
Lucha de Clases
La voz vendría a quedar, de esa manera,
en suspenso. Y un trueno,
en su lugar, se dejaría oír, en la casa
de la historia,
poniendo, como quien dice, un temblor,
hasta en los rincones más escondidos o
más frágiles. Que la voz,
más bien, ininterrumpida, acompañe la
explosión, la haga más
dotándola de una dimensión de modestia,
de error o soledad,
de modo tal que la finitud complete las
estrellas codiciadas.
Y porque, también, pasado el estruendo,
en el silencio que,
por obra de alguna revisión pudiese,
gélido, imperar,
esa voz finita y sin fin siga sola cintilando
hacia el cielo,
de modo tal que ayude, en la noche
eventual,
a romper, o a desplegarse más bien,
firme,
y hasta una nueva noche, el amanecer
Um Tranquilo Anoitecer
(Thomas Kinkade: pintor
norte-americano)
Luta de Classes
A voz viria para ficar, dessa maneira,
em suspenso. E um trovão,
em seu lugar, se deixaria ouvir, na
casa da história,
pondo, como quem diz, um tremor,
até nos recantos mais escondidos ou
mais frágeis. Que a voz,
de preferência, sem interrupções,
acompanhe a explosão, faça-a mais
dotando-a de uma dimensão de modéstia,
de erro ou solidão,
de tal modo que a finitude complete as
estrelas cobiçadas.
E para que, também, passado o estrondo,
no silêncio que,
gélido, talvez possa imperar por obra
de alguma revisão,
essa voz finita e sem fim siga sozinha
cintilando até o céu,
de tal modo que ajude, na noite
eventual,
a romper, ou, antes, a espargir o
amanhecer,
firmemente, até uma nova noite.
Referências:
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa
do povo. Prefácio de Affonso Romano de Sant’Anna. 44. ed. Rio de Janeiro,
RJ: Record, 2011.
SAER, Juan José. Lucha de clases. In:
__________. El arte de narrar: poemas (1960-1987). Madrid, ES: Visor
Libros, DL 2008. p. 26. (Colección ‘Visor de Poesía’; v. DCCII [702]).
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