Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Horace Gregory - Lápide com Querubim

Um poema meio exótico, a demonstrar que tudo pode ser motivo para a evidenciação da poesia: nele se narra o triste fim de uma garota lésbica, que, muito provavelmente, teria cometido suicídio, mas nunca como eventualmente se aventou, que veio a óbito em razão da sífilis.

A moça era avessa à pobreza e, mesmo por isso, eventualmente andava com homens endinheirados, corretores de bolsa ou que tais, embora não chegasse ao extremo do efeito-demonstração das coisas com as quais entrava em posse, preferindo uma espécie de segurança mais relaxada.

J.A.R. – H.C.


Horace Gregory
(1898-1982)

Tombstone with Cherubim

 

No notice in the papers,

only a voice over the telephone

saying she was dead, casually,

remarkably definite.

Somebody whispered syphilis –

a sentimental lie.

Somebody spoke of her

(rococo) a florentine olive tree

that should have twined (O unmistakably!)

around the person of a football-captain stock-broker

asleep

upon Miami sands.

She shrieked at poverty,

divorced from silks, furs, and patented nickel-plated

limousines.

She loved relaxed security,

sleeping with men occasionally

as it were exotic dreams

and rich meaningless words

draping the tender portions of her body:

Hello, Marie

you should have gone out like a row of mazda lamps

smashed with a crowbar.

Even this epitaph,

true enough for a beautiful girl

pacing with unforgettable ease

down Michigan Boulevard one April morning,

does not contain the facts.

The facts were these:

she died in lesbian serenity

neither hot nor cold

until the chaste limbs stiffened.

Disconnect the telephone;

cut the wires.

Lápide com Querubim

Lápide com Querubim

 

Nenhuma nota nos jornais,

somente uma voz ao telefone

dizendo que ela havia morrido, casualmente,

notavelmente enfática.

Alguém sussurrou ‘sífilis’ –

uma mentira sentimental.

Alguém referiu-se a ela como

uma oliveira florentina (rococó)

que deveria ter-se enredado (oh, inequivocamente!)

com a pessoa de um capitão de futebol e corretor de valores,

adormecido

nas areias de Miami.

Ela sentia aversão à pobreza.

Divorciada de sedas, peles e niqueladas limusines

patenteadas,

amava a relaxada segurança,

dormindo ocasionalmente com homens

como se fossem sonhos exóticos

e ricas palavras sem sentido

a cobrirem-lhe as partes sensíveis do corpo:

Olá, Marie!

deverias ter partido como uma fileira de  lâmpadas mazda

destroçadas com um pé de cabra.

Mesmo esse epitáfio,

veraz o bastante para uma bela garota

passeando com um jeito memorável

pelo Bulevar Michigan em uma manhã de abril,

não abarca os fatos.

Estes foram os fatos:

ela morreu em lesbiana serenidade,

nem quente nem fria,

até que os castos membros se enrijecessem.

Desconectado

o telefone;

cortados os cabos.

Referência:

GREGORY, Horace. Tombstone with cherubim. In: RODMAN, Selden (Ed.). A new anthology of modern poetry. New York, NY: Random House Inc., 1946. p. 225-226. (“The Modern Library”)

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