O poeta, provavelmente, se encontrava em férias
em Porto Seguro (BA) e aproveitou para redigir este poema dedicado à mesma
mirada a que teve alcance o escrivão da esquadra lusitana capitaneada por
Cabral, vale dizer, Pero Vaz de Caminha, surpreendido pela nudez dos habitantes
da nova terra, em especial, das mocinhas que, “de as nós muito bem olharmos,
não se envergonhavam”.
Carlos Henrique contrapõe, num gracejo, o fato
de os indígenas locais serem imberbes com a declaração controvertida de que as
damas da corte portuguesa seriam hirsutas (peludas). Mas não nos prendamos a
detalhes: o poeta entende que a longa epístola de Caminha ao rei D. Manuel
teria sido a primeira carta de amor a estas terras que, depois, passariam a
chamar-se Brasil.
J.A.R. – H.C.
Carlos Henrique de
Almeida Santos
(n. 1948)
À Primeira Vista
Aos que “ficaram a procriar”,
com gratidão filial.
Releio o escrivão da
frota
desde o seu Porto
Seguro.
Da viagem quase nada:
tudo é a terra e a
gente.
Nus, esbeltos,
bronzeados
mancebos de corpos sãos
moças de tenras
vergonhas
lisinhas de dar inveja
às damas hirsutas da
Corte.
Povo de tão boa índole
manso, alegre, confiante
pré-Pecado Original;
e um sítio generoso
águas frescas, doces
frutos
praias brancas, brisa
amena.
Afeito aos juízos
ligeiros
desse oficio de jornal
fecho o livro e
considero:
“grandíssima
reportagem!”
Mas um cochilo na rede
acorda em mim o poeta...
Quinhentos anos atrás
o que Caminha escreveu
sobre nós, os
brasileiros
e o nosso lugar no Mundo
foi bem mais que uma
notícia
certidão de nascimento
termo de posse ou
conquista.
Pero Vaz na vera paz
desses mares da Bahia
endereçou a nós todos
a primeira e apaixonada
carta de amor ao Brasil.
Porto Seguro, fevereiro
de 2000
Desembarque de Cabral em
Porto Seguro
(Oscar Pereira da Silva:
pintor brasileiro)
Referência:
SANTOS, Carlos Henrique de Almeida. À primeira
vista. In: __________. Bloco de rascunho: poesia. Brasília,
DF: Edições Dédalo, 2001. p. 66-67.
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