Nejar atribui um sentido mais abstrato
– menos específico, portanto, naquilo que se refere a um evento ocorrido na
colina do Príncipe Pío, em Madrid, quando da invasão napoleônica à Espanha, em
1808, que vitimou por volta de 400 pessoas –, às impressões que se podem
extrair do famoso quadro de Goya.
Afirma o poeta que, quem quer que
possua o poder ou a força para nos matar, mata-nos o corpo, mas não a alma, ela
que perdura pela robustez dos sonhos a que se agarra, vivendo, por conseguinte,
num plano de vida incapaz de ser violentado, eis que desdobrado em uma ponte
para a eternidade.
J.A.R. – H.C.
Os Fuzilados de Goya
Morremos
mas não abrimos mão
do que sonhando,
é mais do que estar vivo,
é ter vivido
o último percalço
do equilíbrio.
Os homens não toleram
a consciência, nem
se toleram como feras.
E se à luz não se apegam,
são mais tristes, duros,
solitários. Gorjeando
contra o frio, os ledos
ossos.
Morremos. Onde é alma,
sobrevive. E toda a eternidade
é ver o instante
que as armas nos apontam
com seu fogo.
E mais que a pontaria,
o grito enorme,
como flores caladas
junto aos olhos.
São pálpebras que falam
o seu ódio.
O pelotão explode
e nós olhamos na cara
o vosso susto, a morte
que nos dais, o sonho
florescendo igual a um campo,
onde fuzis plantados,
se levantam.
E esta porta
aberta
sobre a morte.
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