Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Cassiano Nunes - A Robert Lowell

Nunes promove certas conexões com a escrita confessional de Lowell, suas incursões tenazes sobre o tema da morte, os versos como um periscópio a vasculhar as incongruências familiares – muito em razão, diga-se, de sua manifesta bipolaridade, convolada em manias e depressões, que o levaram a ser hospitalizado vezes sem conta.

 

É a matéria da memória que, em grande medida, se transmuta na poesia de Lowell, agora íntima e vulnerável, distante, assim, da escrita tradicional em padrões formais, presente em suas criações iniciais. Na espontaneidade do verso livre, surge então a linguagem franca, preservada por um estoque de palavras reiteradamente renovado e convertida numa autêntica autobiografia poética.

 

J.A.R. – H.C.

 

Cassiano Nunes

(1921-2007)

 

A Robert Lowell

 

I

 

O poeta é um estoico

de forma muito natural.

O verde pútrido do charco

Aceita como lugar.

 

Mártir? Quem o crê, ao contemplar

secos seus olhos?

Ouve-se a ária límpida da flauta,

não o quebrar dos ossos.

 

II

 

Os mortos insistem

no diálogo,

na quase extinta língua morta,

chamada passado.

 

Nos recusamos: e os importunos

resolvem os repelir com desdém forte,

como se a vida que levamos,

só fosse vida sem a morte.

 

Em: “Jornada” (1972)

 

Lótus Rosa
(Judy Schubert: pintora norte-americana)

 

Referência:

 

NUNES, Cassiano. A Robert Lowell. In: __________. Obra reunida: poesia; v. 1. Organização de Maria de Jesus Evangelista. Brasília, DF: Centro Editorial, 2015. p. 63.

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