Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 12 de agosto de 2018

Jaci Bezerra - No sonho a mão de alguém me apoia e guia

Independentemente da maneira de ser de nossos pais, eles nos marcam de qualquer modo, para o bem ou para o mal. Das histórias narradas pelos filhos podem-se captar as representações que lhes calaram fundo n’alma: neste caso, o poeta presume haver herdado do pai a tendência ao silêncio e ao cuidado com as plantas à volta.

 

Nada obstante, o pai, enquanto figura mítica, vai-se esmaecendo no “atormentado sótão da memória” do autor, ainda que o acompanhe “tempo afora”. Quando o poeta dele se lembra, assomam as memórias do tempo de infância, nas imediações dos currais, por onde podia vê-lo no trato com o seu dileto cavalo...

 

J.A.R. – H.C.

 

Jaci Bezerra

(n. 1944)

 

No sonho a mão de alguém me apoia e guia

 

O pai tinha um cavalo luminoso

e cuidava das rosas do jardim,

porém seu coração não tinha pouso

e, por isso, ele foi um homem assim,

calado e só, talvez misterioso,

mesmo ao bordar estórias para mim.

Dele herdei o silêncio em que me movo

e os meus pastos de antúrio e de capim.

Ao recordá-lo, inteiro me enterneço.

O pai é a minha infância aurorescendo

nesses currais de luz onde adormeço.

Mito que me acompanha tempo afora,

O pai é uma canção esmaecendo

no atormentado sótão da memória.

 

Pai e Filho

(Bruce Greene: pintor norte-americano)

 

Referência:

 

BEZERRA, Jaci. No sonho a mão de alguém me apoia e guia. In: MORAIS, Heloísa Arcoverde de; BRAZIL, Magali (Orgs.). Recife: um olhar transatlântico / Nantes: un regard transatlantique. Antologia Poética / Anthologie poétique. Traduções de Everardo Norões e Renaud Barbaras. Recife, PE: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2007. p. 131.

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