Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de agosto de 2018

John Berryman - A Confissão de Henry

Interessei-me por esta canção de Berryman em razão de nela se observar a presença de um personagem – Henry – e o seu alterego, a que a voz lírica intercalada chama “Mr Bones”, decerto uma parelha com a ideia de morte, pois “bone” vale tanto quanto um “osso” e, como grafado no plural, estende-se à ideia de “esqueleto”.

 

Ademais, o poema menciona “uma bala na varanda”, e por julgar algo insólita a presença de tal referência no meio de um verso da segunda estrofe, busquei investigar algo da própria biografia de Berryman, e descobri que o seu pai cometeu suicídio com arma de fogo. Em razão disso, penso haver na mente do poeta certa propensão a se juntar ao pai, que se não vem ter à sua presença, incita-o, em vez disso, a buscá-la.

 

J.A.R. – H.C.

 

John Berryman

(n. 1914-1972)

 

From “The Dream Songs”

76 – Henry’s Confession

 

Nothin very bad happen to me lately.

How you explain that? – I explain that, Mr Bones,

terms o' your bafflin odd sobriety.

Sober as man can get, no girls, no telephones,

what could happen bad to Mr Bones?

– If life is a handkerchief sandwich,

 

in a modesty of death I join my father

who dared so long agone leave me.

A bullet on a concrete stoop

close by a smothering southern sea

spreadeagled on an island, by my knee.

– You is from hunger, Mr Bones,

 

I offers you this handkerchief, now set

your left foot by my right foot,

shoulder to shoulder, all that jazz,

arm in arm, by the beautiful sea,

hum a little, Mr Bones.

– I saw nobody coming, so I went instead.

 

A bela e a fera: uma mulher

e um híbrido de homem e animal

(Ryohei Hase: ilustrador japonês)

 

De “As Canções do Sonho”

76 – A Confissão de Henry

 

Nada muito mal ocorreu comigo ultimamente.

Como você explicaria isso? – Eu lhe relatarei, Mr Bones,

os termos de sua estranha sobriedade desconcertante.

Sóbrio tanto quanto um homem pode ser, sem garotas,

nem telefones,

Que mal poderia suceder-lhe, Mr Bones?

– Se a vida for um sanduíche de lenços,

 

na modéstia da morte junto-me ao meu pai,

que ousou deixar-me há tanto tempo.

Uma bala numa varanda de concreto,

perto de um sufocante mar do sul

esparramado numa ilha, sobre os meus joelhos.

– Você provém da fome, Mr Bones,

 

Ofereço-lhe este lenço; agora aproxime o

seu pé esquerdo do meu pé direito,

ombro contra ombro, todo esse jazz,

de braços dados, pelo mar fascinante,

cantarole um pouco, Mr Bones.

– Não vi ninguém se aproximando, fui lá ter em vez disso.

 

Referência:

 

BERRYMAN, John. From “The Dream Songs”‎: ‎76 – Henry’s Confession. In: McCLATCHY, J. D. (Ed.). The vintage book of contemporary american poetry. 2nd ed. New York, NY: Vintage Books (A Division of Random House Inc.), march 2003. p. 52.

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