Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Manoel de Barros - Poema

Até mesmo no gracejo a si próprio pode haver poesia: na insignificância do ser, o poeta antevia o meio de se alcançar as profundidades, haja vista que de tudo não sabe quase nada, motivo pelo qual chamaram-no “imbecil” – e ele chorou de tão emocionado que ficou com o “elogio”! (rs)

 

De fato, a mensagem que Barros nos incita a assimilar é a de que em toda a nossa insânia de buscar os píncaros da fama, da riqueza ou do poder, jamais se poderá sobrelevá-los a ponto de se ignorar aquela máxima de Plínio num dos ensaios de Montaigne: “Il n’y a rien de certain que l’incertitude, et aucune créature plus minable et plus orgueilleux que l’homme.” (“Nada é certo senão a incerteza, e nenhuma criatura há mais miserável e vaidosa do que o homem.”) (*)

 

J.A.R. – H.C.

 

Manoel de Barros

(1916-2014)

 

Poema

 

A poesia está guardada nas palavras – é tudo que

eu sei.

Meu fado é o de não saber quase tudo.

Sobre o nada eu tenho profundidades.

Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.

Para mim poderoso é aquele que descobre as

insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.

Fiquei emocionado e chorei.

Sou fraco para elogios.

 

Em: “Tratado geral das grandezas do ínfimo” (2001)

 

Sobre o Branco II

(Vassily Kandinsky: pintor russo)

 

Nota:

(*). Em “Comme notre esprit s’empêche soi-même” (“Como o nosso espírito se enreda a si mesmo”) (Essais; Livre II; Chapitre XIV).


Referência:

 

BARROS, Manoel de. Poema. In: __________. Poesia completa. São Paulo, SP: LeYa, 2013. p. 403.

Nenhum comentário:

Postar um comentário