Até
mesmo no gracejo a si próprio pode haver poesia: na insignificância do
ser, o poeta antevia o meio de se alcançar as profundidades, haja vista que de
tudo não sabe quase nada, motivo pelo qual chamaram-no “imbecil” – e ele chorou
de tão emocionado que ficou com o “elogio”! (rs)
De fato,
a mensagem que Barros nos incita a assimilar é a de que em toda a nossa insânia
de buscar os píncaros da fama, da riqueza ou do poder, jamais se poderá
sobrelevá-los a ponto de se ignorar aquela máxima de Plínio num dos ensaios de
Montaigne: “Il n’y a rien de certain que l’incertitude, et aucune créature plus
minable et plus orgueilleux que l’homme.” (“Nada é certo senão a incerteza, e
nenhuma criatura há mais miserável e vaidosa do que o homem.”) (*)
J.A.R.
– H.C.
Manoel de Barros
(1916-2014)
Poema
A
poesia está guardada nas palavras – é tudo que
eu
sei.
Meu
fado é o de não saber quase tudo.
Sobre
o nada eu tenho profundidades.
Não
tenho conexões com a realidade.
Poderoso
para mim não é aquele que descobre ouro.
Para
mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por
essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei
emocionado e chorei.
Sou
fraco para elogios.
Em:
“Tratado geral das grandezas do ínfimo” (2001)
Sobre o Branco II
(Vassily Kandinsky: pintor russo)
Nota:
(*). Em “Comme notre esprit s’empêche
soi-même” (“Como o nosso espírito se enreda a si mesmo”) (Essais;
Livre II; Chapitre XIV).
Referência:
BARROS,
Manoel de. Poema. In: __________. Poesia completa. São Paulo, SP:
LeYa, 2013. p. 403.
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