Os piratas – vistos aqui como heróis românticos
e sinistros antagonistas – narram as suas aventuras sobre o mar, à margem de
quaisquer considerações de ordem legal, à procura do que quer que seja que
possam pilhar e transformar em valores mais facilmente transacionáveis, a
exemplo do dinheiro vivo.
Como objeto de espoliação, serve até mesmo uma
jovem freira, raptada de um monastério às proximidades do litoral e vendida à
sua alteza, pouco importando as suas súplicas, rogos, apelos. Tornar-se-á ela
uma maometana, pertencendo ao harém do sultão, morra ela ou não de desgosto por
estar afastada dos seus antigos votos cristãos.
J.A.R. – H.C.
Victor Hugo
(1802-1885)
Chanson de Pirates
“Alerte! alerte! Voici
les pirates
d’Ochali qui traversent
le détroit.”
Le Captif d’Ochali.
Nous emmenions en
esclavage
Cent chrétiens, pêcheurs
de corail;
Nous recrutions pour le
sérail
Dans tous les moûtiers
du rivage.
En mer, les hardis
écumeurs!
Nous allions de Fez à
Catane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
On signale un couvent à
terre.
Nous jetons l’ancre près
du bord.
A nos yeux s’offre tout
d’abord
Une fille du monastère.
Prés des flots, sourde à
leurs rumeurs,
Elle dormait sous un
platane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
– La belle fille, il
faut vous taire,
Il faut nous suivre. Il
fait bon vent.
Ce n’est que changer de
couvent.
Le harem vaut le
monastère.
Sa hautesse aime les
primeurs,
Nous vous ferons
mahométane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
Elle veut fuir vers sa
chapelle.
– Osez-vous bien, fils
de Satan?
– Nous osons, dit le
capitan.
Elle pleure, supplie,
appelle.
Malgré sa plainte et ses
clameurs,
On l’emporta dans la
tartane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
Plus belle encor dans sa
tristesse,
Ses yeux étaient deux
talismans.
Elle valait mille
tomans;
On la vendit à sa
hautesse.
Elle eut beau dire: Je
me meurs!
De nonne elle devint
sultane...
Dans la galère capitane
Nous étions
quatre-vingts rameurs.
(12 mars 1828)
Dans: “Les Orientales”
(1829)
Batalha no mar entre
militares e piratas orientais
(Philippe-Jacques de
Loutherbourg: pintor francês)
A Canção dos Piratas
“Alerta! alerta! Vejam
os piratas
de Ochali a cruzar o
estreito.”
O Cativo de Ochali.
Nós transportamos em
cativeiro
Cem cristãos, pescadores
de corais;
Nós os recrutamos para o
serralho
De todos os monastérios
do litoral.
No mar, como audazes
corsários!
Nós rumamos de Fez a
Catânia...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Divisamos um convento em
terra.
Ancoramos bem perto da
margem.
Aos nossos olhos logo se
ofereceu
Uma jovem eremita do
mosteiro.
Indiferente ao marulho
da borda,
Descansava ela sob um
plátano...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Fica tranquila, formosa
mocinha,
Partiremos já. Há vento
favorável.
Só estarás mudando de
convento.
O harém equivale ao
monastério.
Sua alteza aprecia as
novidades
E te faremos uma
maometana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Ela buscou fugir de
volta à capela.
– Ousais de fato, filhos
de Satã?
O capitão assegurou-lhe
a ousadia.
Então chorou, implorou,
suplicou.
Malgrado a sua queixa e
clamor,
Deixou-se levar sobre a
tartana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
Ainda mais bonita em sua
tristeza,
Seus olhos pareciam dois
talismãs;
Mil tomans foi o importe
cobrado
À sua alteza, que dela
se apossou.
Longe dos votos, era
como morrer!
De eremita tornou-se uma
sultana...
Embarcados na galera
capitânia,
Éramos oitenta a impelir
os remos.
(12 março 1828)
Em: “As Orientais”
(1829)
Referência:
HUGO, Victor. Chanson de pirates. In:
__________. Oeuvres poétiques completes. Réunies et présentées par
Francis Bouvet. Paris, FR: Jean-Jacques Pauvert Éditeur, 1961. p. 110-111.
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