Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Victor Hugo - A Canção dos Piratas

Os piratas – vistos aqui como heróis românticos e sinistros antagonistas – narram as suas aventuras sobre o mar, à margem de quaisquer considerações de ordem legal, à procura do que quer que seja que possam pilhar e transformar em valores mais facilmente transacionáveis, a exemplo do dinheiro vivo.

 

Como objeto de espoliação, serve até mesmo uma jovem freira, raptada de um monastério às proximidades do litoral e vendida à sua alteza, pouco importando as suas súplicas, rogos, apelos. Tornar-se-á ela uma maometana, pertencendo ao harém do sultão, morra ela ou não de desgosto por estar afastada dos seus antigos votos cristãos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Victor Hugo

(1802-1885)

 

Chanson de Pirates

 

“Alerte! alerte! Voici les pirates

d’Ochali qui traversent le détroit.”

Le Captif d’Ochali.

 

Nous emmenions en esclavage

Cent chrétiens, pêcheurs de corail;

Nous recrutions pour le sérail

Dans tous les moûtiers du rivage.

En mer, les hardis écumeurs!

Nous allions de Fez à Catane...

Dans la galère capitane

Nous étions quatre-vingts rameurs.

 

On signale un couvent à terre.

Nous jetons l’ancre près du bord.

A nos yeux s’offre tout d’abord

Une fille du monastère.

Prés des flots, sourde à leurs rumeurs,

Elle dormait sous un platane...

Dans la galère capitane

Nous étions quatre-vingts rameurs.

 

– La belle fille, il faut vous taire,

Il faut nous suivre. Il fait bon vent.

Ce n’est que changer de couvent.

Le harem vaut le monastère.

Sa hautesse aime les primeurs,

Nous vous ferons mahométane...

Dans la galère capitane

Nous étions quatre-vingts rameurs.

 

Elle veut fuir vers sa chapelle.

– Osez-vous bien, fils de Satan?

– Nous osons, dit le capitan.

Elle pleure, supplie, appelle.

Malgré sa plainte et ses clameurs,

On l’emporta dans la tartane...

Dans la galère capitane

Nous étions quatre-vingts rameurs.

 

Plus belle encor dans sa tristesse,

Ses yeux étaient deux talismans.

Elle valait mille tomans;

On la vendit à sa hautesse.

Elle eut beau dire: Je me meurs!

De nonne elle devint sultane...

Dans la galère capitane

Nous étions quatre-vingts rameurs.

 

(12 mars 1828)

Dans: “Les Orientales” (1829)

 

Batalha no mar entre militares e piratas orientais

(Philippe-Jacques de Loutherbourg: pintor francês)

 

A Canção dos Piratas

 

“Alerta! alerta! Vejam os piratas

de Ochali a cruzar o estreito.”

O Cativo de Ochali.

 

Nós transportamos em cativeiro

Cem cristãos, pescadores de corais;

Nós os recrutamos para o serralho

De todos os monastérios do litoral.

No mar, como audazes corsários!

Nós rumamos de Fez a Catânia...

Embarcados na galera capitânia,

Éramos oitenta a impelir os remos.

 

Divisamos um convento em terra.

Ancoramos bem perto da margem.

Aos nossos olhos logo se ofereceu

Uma jovem eremita do mosteiro.

Indiferente ao marulho da borda,

Descansava ela sob um plátano...

Embarcados na galera capitânia,

Éramos oitenta a impelir os remos.

 

Fica tranquila, formosa mocinha,

Partiremos já. Há vento favorável.

Só estarás mudando de convento.

O harém equivale ao monastério.

Sua alteza aprecia as novidades

E te faremos uma maometana...

Embarcados na galera capitânia,

Éramos oitenta a impelir os remos.

 

Ela buscou fugir de volta à capela.

– Ousais de fato, filhos de Satã?

O capitão assegurou-lhe a ousadia.

Então chorou, implorou, suplicou.

Malgrado a sua queixa e clamor,

Deixou-se levar sobre a tartana...

Embarcados na galera capitânia,

Éramos oitenta a impelir os remos.

 

Ainda mais bonita em sua tristeza,

Seus olhos pareciam dois talismãs;

Mil tomans foi o importe cobrado

À sua alteza, que dela se apossou.

Longe dos votos, era como morrer!

De eremita tornou-se uma sultana...

Embarcados na galera capitânia,

Éramos oitenta a impelir os remos.

 

(12 março 1828)

Em: “As Orientais” (1829)

 

Referência:

 

HUGO, Victor. Chanson de pirates. In: __________. Oeuvres poétiques completes. Réunies et présentées par Francis Bouvet. Paris, FR: Jean-Jacques Pauvert Éditeur, 1961. p. 110-111.

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