Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Reiner Kunze - O bosque educa as suas árvores

Se não estiver equivocado quanto ao real sentido que o poeta gostaria de atribuir ao poema, o que se tem em seus versos são, de fato, as conjecturas que norteiam uma sociedade coletivista, na qual há pouca margem para as individualidades e particularidades, devendo os pares se adaptar às normas uniformemente prescritas.

Por óbvio, nem tanto ao mar nem tanto à terra: se o individualismo é condenável naquilo que projeta o homem à volta do próprio umbigo, por outro lado, o coletivismo não vê o homem, senão apenas a sociedade. Como afirmava Martin Buber, aqui a face do homem está escondida, ali distorcida. E assim continuamos a patinar no dilema magistralmente exposto nas elucubrações filosóficas de Norberto Bobbio: igualdade x liberdade!...

J.A.R. – H.C.


Reiner Kunze
(n. 1933)

Der hochwald erzieht seine bäume

Der hochwald erzieht seine bäume

Sie des lichtes entwöhnend, zwingt er sie,
all ihr grün in die kronen zu schicken
Die fähigkeit,
mit allen zweigen zu atmen,
das talent,
äste zu haben nur so aus freude,
verkümmern

Den regen siebt er, vorbeugend
der leidenschaft des durstes

Er lässt die bäume grösser werden
wipfel an wipfel:
Keiner sieht mehr als der andere,
dem wind sagen alle das gleiche

Oliveiras com céu amarelo e sol
(Vincent van Gogh: pintor holandês)

O bosque educa as suas árvores

O bosque educa as suas árvores

Desabituando-as da luz, obriga-as
a remeter todo o verdor para as copas
A capacidade
de respirar por todos os ramos,
o talento
de deitar galhos assim só por prazer
vão estiolando

Coa a chuva, prevenindo
a paixão da sede

Deixa crescer as árvores
coruto a coruto:
nenhuma vê mais que as outras,
ao vento todas dizem o mesmo

Referência:

KUNZE, Reiner. Der hochwald erzieht seine bäume / O bosque educa as suas árvores. Tradução de Renato Correia. In: __________. Poemas. Traduções de Luz Videira e Renato Correia; introdução de Renato Correia. Edição coordenada por Karl Heinz Delille. Porto, PT: Paisagem, 1984. Em alemão: p. 26; em português: p. 27. (“Estudos Literários”; v. 1)

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