Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Guillaume Apollinaire - Ao proletário ‎

Nesta espécie de ode ao proletário, figura comum no mundo industrial então em plena expansão, o poeta fixa-se numa paisagem fabril trivial, esteticamente nada bela, para vertê-la em objeto poético, diga-se, não tão frequente em sua obra – como o seria, por exemplo, na do russo Vladimir Maiakovski.

 

O léxico empregado, associado ao trabalho e suas ferramentas, favorece a ideação de uma imagem de vida difícil, a contrastar com o silêncio retraído ao som das máquinas, embora resplenda certa forma de beleza. A ação do trabalho torna-se, assim, verdadeira obra de arte nessa espécie de estética das coisas ordinárias da realidade.

 

J.A.R. – H.C.

 

Guillaume Apollinaire

(1880-1918)

 

Au prolétaire

 

Ô captif innocent qui ne sais pas chanter

Écoute en travaillant tandis que tu te tais

Mêlés aux chocs d’outils les bruits élémentaires

Marquent dans la nature un bon travail austère

L’aquilon juste et pur ou la brise de mai

De la mauvaise usine soufflent la fumée

La terre par amour te nourrit les récoltes

Et l’arbre de science où mûrit la révolte

La mer et ses nénies dorlotent tes noyés

Et le feu le vrai feu l’étoile émerveillée

Brille pour toi la nuit comme un espoir tacite

Enchantant jusqu’au jour les bleuités du site

Où pour le pain quotidien peinent les gars

D’ahans n’ayant qu’un son le grave l’oméga

 

Ne coûte pas plus cher la clarté des étoiles

Que ton sang et ta vie prolétaire et tes moelles

Tu enfantes toujours de tes reins vigoureux

Des fils qui sont des dieux calmes et malheureux

Des douleurs de demain tes filles sont enceintes

Et laides de travail tes femmes sont des saintes

Honteuses de leurs mains vaines de leur chair nue

Tes pucelles voudraient un doux luxe ingénu

Qui vînt de mains gantées plus blanches que les leurs

Et s’en vont tout en joie un soir à la male heure

Or tu sais que c’est toi toi qui fis la beauté

Qui nourris les humains des injustes cités

Et tu songes parfois aux alcôves divines

Quand tu es triste et las le jour au fond des mines

 

Os Fragmentadores de Pedras

(Gustave Courbet: pintor francês)

 

Ao proletário

 

Ó cativo inocente que não sabes cantar

Escuta trabalhando enquanto deves calar

Com os golpes de ferramentas o ruído elementar

Marca na natureza o bom e austero trabalho

O vento justo e puro ou a brisa de maio

Da feia usina sopram a fumaça

A terra por amor alimenta tua carcaça

E a árvore da ciência que nutre a revolta

O mar e seu réquiem teus afogados envolta

E o verdadeiro fogo estrela maravilhosa

Brilha por ti a noite como esperança formosa

Encantando até o dia o local azulado

Onde pelo pão cotidiano sofre o coitado

Com somente um som grave ômega brado

 

Não custa mais caro a luz das estrelas

Do que teu sangue e tua vida proletária e tuas medulas

Dás à luz sempre dos teus vigorosos rins

Filhos que são deuses calmos e infelizes

Das dores de amanhã estão grávidas tuas filhas tantas

E feias do trabalho tuas mulheres são santas

Envergonhadas de suas mãos vãs de carne nua

Tuas virgens queriam um doce luxo ingênuo

Que viesse de mãos enluvadas mais brancas que as delas

E vão embora alegres uma noite na hora das mazelas

Ora você sabe que és tu que fizestes a beldade

Que alimenta os humanos da injusta cidade

E pensas às vezes em alcovas divinas

Quando és triste e cansado de dia no fundo das minas

 

Referências:

 

Em Francês

 

APOLLINAIRE, Guillaume. Au prolétaire. In: Œuvres poétiques. Préface par André Billy, texte établi et annoté par Marcel Adéma et Michel Décaudin. Paris, FR: Gallimard, 1959. p. 520. (“Bibliothèque de la Pléiade”)

 

Em Português

 

APOLLINAIRE, Guillaume. Ao proletário. Tradução de Daniel Fresnot. In: __________. Álcoois e outros poemas. Tradução de Daniel Fresnot. São Paulo, SP: Martin Claret, 2005. p. 147. (Coleção ‘A Obra-Prima de Cada Autor’)

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