Extraído a uma obra que conjuga poemas criados
pela supramencionada poetisa a ilustrações de José Maria de Almeida – pintor
luso-brasileiro –, este soneto é o puro fruto da imaginação humana: a autora,
sobre as falésias da Ponta de Sagres, fantasia a figura do Infante D. Henrique
(1394-1460) vindo-lhe ao encontro, radiante por haver levado à frente o seu
sonho de uma escola náutica naquelas paragens, ao sul de Portugal.
Aliás, há quem ponha em dúvida a efetiva
existência da Escola de Sagres, dada a insuficiência probatória documental,
sendo ela um possível mito que teria sido desenvolvido a partir de textos
elaborados pelo historiador e gramático João de Barros (1496-1570), pelo também
historiador, além de escritor e religioso inglês, Samuel Purchas (1575-1626).
J.A.R. – H.C.
Lisette Villar de Lucena
Tacla
(1909-?)
Sagres
Contemplando os rochedos
escalvados
Onde o mar vem bramir,
numa voz cava,
Hirtos, senti meus pés
ao chão cravados,
Nessa rubra falésia que
escaldava.
– Nas cartas de marear
ei-los curvados. –
Todo o heroico passado
eu recordava,
Quando notam meus olhos
deslumbrados
Que um vulto contra a
luz se projetava.
Pulsou meu coração num
atropelo:
É D. Henrique, que
emoção ao vê-lo
De pé, beirando a
escarpa. A face austera
Abriu-se, num sorriso
iluminado...
Como se nesse gesto me
dissera:
“Dever cumprido e sonho
realizado!”
Ponta de Sagres
(Portugal)
Referência:
TACLA, Lisette Villar de Lucena. Sagres. In:
__________. Aquarelas de Portugal. Capa e ilustrações de José Maria
de Almeida. Rio de Janeiro: Livraria H. Antunes Ltda., 1960. p. 77.
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