Estamos no meio do verão,
e o poeta contempla o verde a se abrir nos ramos viçosos das campânulas e nas gramíneas,
numa paisagem decerto florida e plena de calor, quer se entenda o tépido em seu
sentido literal – em razão da estação do ano –, quer conotativamente – por força
do efeito produzido pela vegetação e pelas cores vivazes dos botões a desabrochar.
Nesse cenário, os pássaros
voejam em torno de um abeto, quase ao meio-dia, deliciando-se em banhar suas penas
nas águas, fazendo-as rebrilhar, aspergindo gotas, como diamantes, ao saltitarem
das ondas ao solo. E Coppée sente inveja desses seres que se comprazem em coisas
tão simples: cantar, amar e morrer!
J.A.R. – H.C.
François Coppée
(1842-1908)
Août
Par les branches désordonnées
Le coin d’étang est abrité,
Et là poussent en liberté
Campanules et graminées.
Caché par le tronc d’un sapin,
J’y vais voir, quand midi flamboie,
Les petits oiseaux, pleins de joie,
Se livrer au plaisir du bain.
Aussi vifs que des étincelles,
Ils sautillent de l’onde au sol,
Et l’eau, quand ils prennent leur vol,
Tombe en diamants de leurs ailes.
Mais mon cœur, lassé de souffrir,
En les admirant les envie,
Eux qui ne savent de la vie
Que chanter, aimer et mourir!
(Rosemary Millette: pintor norte-americana)
Agosto
Do tanque um ângulo ensombram
As ramarias viçosas,
E as gramíneas caprichosas
Florindo, as pedras alfombram.
Ao arder do meio-dia,
Vou as aves espreitar,
Que, numa doída alegria,
Vão n’água as penas banhar.
Saltitam vivas, brilhantes,
Como fagulhas de brasas,
E o voo erguendo das asas
Tombam pérolas, diamantes.
Eu quisera, alma abatida,
Dessas aves o viver...
Que apenas sabem na vida
Cantar, amar e morrer!
Valentim Magalhães
(14 de maio de 1881)
Referência:
COPPÉE, François. Août
/ Agosto. Tradução de Valentim Magalhães. In: __________. Poesias completas de Raimundo
Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional,
1948. Em francês: p. 453;
em português: p. 378-379.
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