Mais conhecido por ser o autor do famoso romance “A Escrava Isaura”
(1875), o escritor mineiro também se embrenhou pelos domínios da poesia, e os
dois sonetos de hoje aventuram-se a discorrer sobre o trabalho e a luz, neste último
caso, em duplo sentido, como se pode abaixo constatar.
Verifica-se certo pastiche no segundo soneto, quando em comparação com o
primeiro – este nitidamente dedicado a evento de inauguração de um “Liceu de
Artes e Ofícios” –, ao repetir as palavras “trabalho” e “luz”, não
necessariamente nessa ordem, em todos os versos.
Seja como for, hoje, “Dia do Trabalho”, temos aqui replicada a premissa
de que, ao trabalhar, o homem direciona-se à luz, distanciando-se dos vícios.
Ou como diria o meu falecido pai à exaustão: “A preguiça é a mãe de todos os
vícios”. Mas há quem diga: “Mente ociosa é a oficina do diabo”!
J.A.R. – H.C.
Bernardo Guimarães
(1825-1884)
Trabalho e luz
I
Luz e trabalho, eis a
divisa imensa
Da nova legião de um
mundo novo.
Das águias do porvir
fecunde-se o ovo
No vigor do trabalho
unido à crença.
D’árvore humanidade à
luz intensa
Do livre ensino brota
o são renovo
Rico de luz se
nobilita o povo
Do trabalho na santa
recompensa.
Trabalham para a luz
almas, que alentam
O brilho do trabalho.
Os benefícios
Da luz da educação a
Deus contentam.
Trabalho e luz contra
o furor dos vícios,
No trabalho e na luz
que a paz sustentam,
Glória ao Liceu de
Artes e de Ofícios.
II
Trabalho e luz, mais
luz e mais trabalho!
Sem trabalho não pode
dar-se a luz,
Ao trabalho preside a
diva luz
E de noite sem luz
não há trabalho.
O trabalho é saúde, é
vida, é luz;
Para ter uma luz,
sempre trabalho;
Sai sem luz, todo
errado, o meu trabalho,
Pois não há bom
trabalho sem a luz.
Ora, a luz sendo o
guia do trabalho
Nada faz o trabalho
sem a luz,
E nem a luz é nada
sem trabalho.
À força do trabalho
obtém-se a luz
Mas a luz não
resplande sem trabalho
Glória ao trabalho e
luz, luz e trabalho.
Plantadores de Batatas
(Jean-François
Millet: pintor francês)
Referência:
GUIMARÃES, Bernardo. Trabalho e luz.
In: __________. Poesias completas.
Organização, introdução, cronologia e notas por Alphonsus de Guimaraens Filho.
Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro / Ministério da Educação e Cultura
(INL/MEC), 1959. p. 449-450.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário