Um poema que alterna falas do sujeito lírico com outras do próprio rapaz que estava se afogando, mas que todos pensavam que estivesse apenas acenando de dentro da água: gritos de ajuda podem, muitas vezes, ser confundidos com manifestações de bom humor, num caso fatal de má interpretação. Agora, nada se pode mais fazer, pois o que pedia socorro sucumbiu.
Mas veja-se que o morto adorava encetar ludíbrios e, por isso, as pessoas acabaram por dar um “desconto” em suas elocuções. Agora estamos à volta daquilo que sempre transparecemos: pássaros ininteligíveis, sob o risco de ter nossos gestos, hábitos e papéis mal compreendidos, confundidos com o nosso próprio ser.
J.A.R. – H.C.Not Waving but Drowning
Nobody heard him, the dead man,
But still he lay moaning:
I was much further out than you
thought
And not waving but drowning.
Poor chap, he always loved larking
And now he’s dead
It must have been too cold for him his
heart gave way,
They said.
Oh, no no no, it was too cold
always
(Still the dead one lay moaning)
I was much too far out all my life
And
not waving but drowning.
Não Acenando, mas me Afogando
Ninguém escutou o homem morto,
Muito embora se pusesse a lamentar:
– Estava bem mais longe do que
pensavam,
E não acenando, mas me afogando.
Pobre rapaz, sempre gostou de ludíbrios
E agora está morto.
Deveria estar muito frio para ele e seu
coração cedeu,
Disseram eles.
– Oh, não não não, sempre fez muito
frio
(Amiúde, o morto punha-se a lamentar)
– E estive tão distante toda a minha
vida,
E
não acenando, mas me afogando.
Eu não conhecia essa poetisa, estou descobrindo=a hoje, através do filme "O gambito da rainha". Pesquisando, cheguei ao seu blog, mais uma vez. Obrigada!
ResponderExcluirPrezada Dalva,
ExcluirAgradeço pelas palavras: é sempre bom conhecermos autore(a)s o(a)s mais diverso(a)s, pois assim poderemos usufruir ao máximo as possibilidades da linguagem, mediante os recursos empregados em suas escritas − como no caso.
Um abraço,
João A. Rodrigues
A tradução é sua? Muito boa !
ResponderExcluirPrezada Júlia,
ResponderExcluirA versão ao português é de minha autoria: que bom que você gostou.
Quando a tradução é de outra pessoa, nomeio-a explicitamente na postagem, em especial no campo de referências.
Um abraço,
João A. Rodrigues
Queria saber o que está acontecendo na pintura do Alfred Guillou (acho que a amada morreu durante o naufrágio; e agora, para sobreviver, ele precisa deixá-la ser levada pelo mar; então se despede com um último beijo)... É isso? Obrigado.
ResponderExcluirPrezado(a),
ExcluirNo ‘site’ do museu a cujo acervo pertence a pintura, há sobre ela o seguinte comentário:
“Trata-se de um drama do mar, como tantos vemos, infelizmente! Uma embarcação, surpreendida pela tempestade, emborcou; aferrando-se aos destroços, um marinheiro apoia seu filho e luta contra o mar revolto, a fustigar duramente os náufragos. Quanto tempo durou essa agonia? Horas e horas se passaram, sem dúvida, e nenhuma ajuda chega: o oceano logrou capturar a sua presa. Chega o momento em que o pai não segura mais que um cadáver nos braços; estreita o garoto febrilmente ao peito e, antes de entregá-lo à grande tumba aberta, dá-lhe um beijo supremo na fronte”.
Um abraço,
João A. Rodrigues
(Fonte: http://www.mbaq.fr/fr/nos-collections/peintures-d-inspiration-bretonne/alfred-guillou-adieu-507.html)