O poeta simplesmente
reescreve o enredo da alegoria da caverna de Platão, com o objetivo de nos
evidenciar a falácia vigente sobre a existência estável do que poderíamos
entender como a verdade, ela que agora paira sobre o mais desafortunado
relativismo, a resvalar para a insolência e o cinismo.
Decerto que foi com o objetivo de
contornar tal ousadia do intelecto, que teóricos como Habermas conceberam o
modo de agir comunicacional, por meio do qual cada partícipe do jogo comunal
poderia assentir sobre a orientação que o grupo social estaria a adotar para
dadas questões de seu particular interesse.
Contudo, salvo engano, temos aí mais
uma abstração filosófica que não logrou fincar pés em solo humano, porque o que
se vê, aqui como alhures, é o mais axiomático contorcionismo verbal para
acobertar interesses escusos, propalados pela mídia e pelos que detêm o poder.
Stephen Dunn
(n.
1939)
Allegory of the Cave
He climbed toward the blinding light
and when his eyes adjusted
he looked down and could see
his fellow prisoners captivated
by shadows; everything he had believed
was false. And he was suddenly
in the 20th century, in the sunlight
and violence of history, encumbered
by knowledge. Only a hero
would dare return with the truth.
So from the cave’s upper reaches,
removed from harm, he called out
the disturbing news.
What lovely echoes, the prisoners said,
what a fine musical place to live.
He spelled it out, then, in clear prose
on paper scraps, which he floated down.
But in the semi-dark they read his
words
with the indulgence of those who seldom
read:
It’s about my father’s death, one of
them said.
No, said the others, it’s a joke.
By this time he no longer was sure
of what he’d seen. Wasn’t sunlight a
shadow too?
Wasn’t there always a source
behind a source? He just stood there,
confused, a man who had moved
to larger errors, without a prayer.
Homem de Olhos
Vendados
(Tim
Teebken: pintor norte-americano)
A Alegoria da Caverna
Ele subiu até a luz ofuscante
e quando seus olhos se ajustaram
baixou a vista e pôde ver
seus camaradas prisioneiros fascinados
pelas sombras; tudo em que acreditava
era falso. E de repente encontrava-se
no século 20, sob a luz do sol
e a violência da história,
sobrecarregado
pelo conhecimento. Somente um herói
ousaria regressar com a verdade.
Então, do ponto mais alto da caverna,
afastado de todo o mal, anunciou
as inquietantes novidades.
Que belos ecos, disseram os
prisioneiros,
que lugar agradavelmente musical para
se viver.
Explicou-lhes, então, em prosa clara
sobre
pedaços de papel, que fez flutuar até
embaixo.
Mas na semiescuridão em que liam suas
palavras
com a indulgência daqueles que
raramente leem:
Trata-se da morte de meu pai, disse um
deles.
Não, disseram os demais, é uma piada.
A essa altura, já não estava mais
seguro do que
vira. Não era a luz solar também uma
sombra?
Não havia sempre uma fonte por trás
de outra fonte? Quedou-se simplesmente
ali,
confuso, um homem que havia passado
a
erros mais pronunciados, sem uma prece.
Referência:
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