Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de maio de 2018

Stephen Dunn - A Alegoria da Caverna ‎

O poeta simplesmente reescreve o enredo da alegoria da caverna de Platão, com o objetivo de nos evidenciar a falácia vigente sobre a existência estável do que poderíamos entender como a verdade, ela que agora paira sobre o mais desafortunado relativismo, a resvalar para a insolência e o cinismo.

Decerto que foi com o objetivo de contornar tal ousadia do intelecto, que teóricos como Habermas conceberam o modo de agir comunicacional, por meio do qual cada partícipe do jogo comunal poderia assentir sobre a orientação que o grupo social estaria a adotar para dadas questões de seu particular interesse.

Contudo, salvo engano, temos aí mais uma abstração filosófica que não logrou fincar pés em solo humano, porque o que se vê, aqui como alhures, é o mais axiomático contorcionismo verbal para acobertar interesses escusos, propalados pela mídia e pelos que detêm o poder.

J.A.R. – H.C.

Stephen Dunn
(n. 1939)

Allegory of the Cave

He climbed toward the blinding light
and when his eyes adjusted
he looked down and could see

his fellow prisoners captivated
by shadows; everything he had believed
was false. And he was suddenly

in the 20th century, in the sunlight
and violence of history, encumbered
by knowledge. Only a hero

would dare return with the truth.
So from the cave’s upper reaches,
removed from harm, he called out

the disturbing news.
What lovely echoes, the prisoners said,
what a fine musical place to live.

He spelled it out, then, in clear prose
on paper scraps, which he floated down.
But in the semi-dark they read his words

with the indulgence of those who seldom read:
It’s about my father’s death, one of them said.
No, said the others, it’s a joke.

By this time he no longer was sure
of what he’d seen. Wasn’t sunlight a shadow too?
Wasn’t there always a source

behind a source? He just stood there,
confused, a man who had moved
to larger errors, without a prayer.

Homem de Olhos Vendados
(Tim Teebken: pintor norte-americano)

A Alegoria da Caverna

Ele subiu até a luz ofuscante
e quando seus olhos se ajustaram
baixou a vista e pôde ver

seus camaradas prisioneiros fascinados
pelas sombras; tudo em que acreditava
era falso. E de repente encontrava-se

no século 20, sob a luz do sol
e a violência da história, sobrecarregado
pelo conhecimento. Somente um herói

ousaria regressar com a verdade.
Então, do ponto mais alto da caverna,
afastado de todo o mal, anunciou

as inquietantes novidades.
Que belos ecos, disseram os prisioneiros,
que lugar agradavelmente musical para se viver.

Explicou-lhes, então, em prosa clara sobre
pedaços de papel, que fez flutuar até embaixo.
Mas na semiescuridão em que liam suas palavras

com a indulgência daqueles que raramente leem:
Trata-se da morte de meu pai, disse um deles.
Não, disseram os demais, é uma piada.

A essa altura, já não estava mais seguro do que
vira. Não era a luz solar também uma sombra?
Não havia sempre uma fonte por trás

de outra fonte? Quedou-se simplesmente ali,
confuso, um homem que havia passado
a erros mais pronunciados, sem uma prece.

Referência:

DUNN, Stephen. Allegory of the cave. In: DOVE, Rita (Ed.). The penguin anthology of twentieth century american poetry. New York, NY: Penguin Books, 2013. p. 369-370.

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