Literalmente, o mau
aluno é o tema deste poema de Prévert, que aqui como alhures, recebe o cognome
de “burro”, em razão de suas poucas “luzes”, dando motivo à caçoada dos alunos
mais bem aquinhoados de neurônios (rs), em circunstâncias que, nos dias que correm,
tangenciam o politicamente incorreto!
Afinal, às vezes, não
é só o fato de o aluno passar ao largo dos cadernos e livros didáticos que leva
a um aprendizado “zero”, podendo existir disfunções biológicas, fisiológicas ou
psicológicas por trás do mau desempenho. Ademais, pelo que presenciei em sala
de aula, quer como discente quer como docente, diria, noutro giro, que a
questão mais relevante para solucionar o problema passa pela opção didática
perfilhada.
Pelo momento,
poderíamos atualizar a associação da incapacidade para se aprender à teimosia
do burro ou do asno, oriundas em fábulas milenares: há quem tenha adotado a
“anta” como o animal preferencial em suas piadinhas infames acerca do assunto.
J.A.R. – H.C.
Jacques Prévert
(1900-1977)
Le Cancre
Il dit non avec la tête
Mais il dit oui avec le cœur
Il dit oui à ce qu’il aime
Il dit non au professeur
Il est debout
On le questionne
Et tous les problèmes sont posés
Soudain le fou rire le prend
Et il efface tout
Les chiffres et mes mots
Les dates et les noms
Les phrases et les pièges
Et malgré les menaces du maître
Sous les huées des enfants prodiges
Avec des craies de toutes les couleurs
Sur le tableau noir du malheur
Il dessine le visage du bonheur.
Dans: “Paroles” (1946)
O Estulto
(Harold Copping: pintor inglês)
O Burro
Ele diz não com a cabeça
Mas diz sim com o coração
Diz sim ao que gosta
Diz não ao professor
De pé
Ele é interrogado
Todos os problemas são suscitados
De repente, um riso insano o sujeita
E a tudo apaga
Os números e as minhas palavras
As datas e os nomes
As frases e as armadilhas
E apesar das ameaças do mestre
Sob os apupos dos infantes prodígios
Com gizes de todas as cores
No quadro negro do infortúnio
Desenha o rosto da felicidade.
Em: “Palavras” (1946)
Referência:
PRÉVERT, Jacques. Le
cancre. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française
du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris,
FR: Gallimard, 2000. p. 404.
❁
Brilhante! Uma amiga minha, francesa, acabou de publicar!|
ResponderExcluirValeu, Cléa, pelo comentário: o poema é mesmo muito engraçado.
ResponderExcluirUm abraço,
João A. Rodrigues