Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Jacques Prévert - O Burro ‎

Literalmente, o mau aluno é o tema deste poema de Prévert, que aqui como alhures, recebe o cognome de “burro”, em razão de suas poucas “luzes”, dando motivo à caçoada dos alunos mais bem aquinhoados de neurônios (rs), em circunstâncias que, nos dias que correm, tangenciam o politicamente incorreto!

 

Afinal, às vezes, não é só o fato de o aluno passar ao largo dos cadernos e livros didáticos que leva a um aprendizado “zero”, podendo existir disfunções biológicas, fisiológicas ou psicológicas por trás do mau desempenho. Ademais, pelo que presenciei em sala de aula, quer como discente quer como docente, diria, noutro giro, que a questão mais relevante para solucionar o problema passa pela opção didática perfilhada.

 

Pelo momento, poderíamos atualizar a associação da incapacidade para se aprender à teimosia do burro ou do asno, oriundas em fábulas milenares: há quem tenha adotado a “anta” como o animal preferencial em suas piadinhas infames acerca do assunto.

 

J.A.R. – H.C.

 

Jacques Prévert

(1900-1977)

 

Le Cancre

 

Il dit non avec la tête

Mais il dit oui avec le cœur

Il dit oui à ce qu’il aime

Il dit non au professeur

Il est debout

On le questionne

Et tous les problèmes sont posés

Soudain le fou rire le prend

Et il efface tout

Les chiffres et mes mots

Les dates et les noms

Les phrases et les pièges

Et malgré les menaces du maître

Sous les huées des enfants prodiges

Avec des craies de toutes les couleurs

Sur le tableau noir du malheur

Il dessine le visage du bonheur.

 

Dans: “Paroles” (1946)

 

O Estulto

(Harold Copping: pintor inglês)

 

O Burro

 

Ele diz não com a cabeça

Mas diz sim com o coração

Diz sim ao que gosta

Diz não ao professor

De pé

Ele é interrogado

Todos os problemas são suscitados

De repente, um riso insano o sujeita

E a tudo apaga

Os números e as minhas palavras

As datas e os nomes

As frases e as armadilhas

E apesar das ameaças do mestre

Sob os apupos dos infantes prodígios

Com gizes de todas as cores

No quadro negro do infortúnio

Desenha o rosto da felicidade.

 

Em: “Palavras” (1946)

 

Referência:

 

PRÉVERT, Jacques. Le cancre. In: DÉCAUDIN, Michel (Éd.). Anthologie de la poésie française du XXe siècle. Préface de Claude Roy. Édition revue et augmentée. Paris, FR: Gallimard, 2000. p. 404.

2 comentários:

  1. Brilhante! Uma amiga minha, francesa, acabou de publicar!|

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  2. Valeu, Cléa, pelo comentário: o poema é mesmo muito engraçado.
    Um abraço,
    João A. Rodrigues

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